Nonato Guedes
Pelo tom das suas declarações ao programa do radialista Nilvan Ferreira, o governador João Azevêdo denota esforço sobre-humano para exorcizar o passado recente que remete à companhia do ex-governador Ricardo Coutinho, buscando desvincular-se de qualquer elo com denúncias arroladas na Operação Calvário, mesmo que o seu nome tenha sido citado em investigações ainda em curso. Em uma outra frente, o chefe do Executivo executa verdadeiro malabarismo para blindar o governo que comanda, evitando que ele seja arrastado para o descompasso ou a inércia na esteira da maré de acusações. Ao repetir com insistência o mantra “meu foco é na gestão”, ele tenta convencer a si próprio de que não vai se desviar da missão pela qual teve a confiança da maioria dos eleitores – governar, e governar bem, a Paraíba.
É claro que o êxito administrativo está condicionado a outros fatores, como a liberação de recursos por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro, que, de acordo com João Azevêdo, não tem sido atencioso, de que é exemplo a inexistência de qualquer convênio entre Brasília e o Palácio da Redenção no exercício de 2019. Azevêdo mantém a expectativa de que essa postura seja modificada – e é certo que penalizar a Paraíba é um ato de agressão que deve ser repelido não somente por ele como por outros representantes do povo, de senadores a deputados federais e estaduais, independente do humor que possam ter em relação a Bolsonaro. Mas o empenho maior para reverter a situação de desvantagem cabe ao governante e sua equipe, de quem se aguarda lampejos de criatividade que forneçam soluções alternativas ao costumeiro “feijão com arroz”.
Até certo ponto, os paraibanos e as paraibanas concedem espaço ao governador de plantão para que passe na prova dos noves, resolvendo gargalos que entravam o desenvolvimento do Estado por razões até estruturais que não estão necessariamente ajoujadas a escândalos políticos episódicos. Esse espaço não deve ser confundido com cheque em branco, uma vez que o tempo urge e a conjuntura reivindica medidas de impacto e de curtíssimo prazo. De resto, a dependência exclusiva ao Planalto deixou de ser uma realidade no cenário brasileiro a partir do “boom” das parcerias público-privadas, que oferecem resultados concretos e beneficiam as populações. O próprio governo de Bolsonaro administra o contencioso herdado das gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT), esparramado em mensalões e petrolões, sem falar na herança do governicho de Michel Temer (MDB). E nem por isso há paralisia. Há erros e muito blá-blá-blá pseudo-ideológico por parte de ministros e do próprio presidente. Mas não se pode dizer que o governo do capitão está parado.
Da parte de Azevêdo e outros governadores do Nordeste, que Bolsonaro, em instante de irritação e preconceito, taxou de “governadores de paraíba”, acentuando o tom pejorativo com que “separatistas” do Sul e do Centro-Sul se referem a nordestinos, surgiu uma bela ideia – a formação do Consórcio Nordeste para barateamento de custo de bens e produtos, potencializando nichos de investimento no Brasil e no exterior. É um experimento que está sendo, naturalmente, testado e aprimorado com o trem em movimento, sujeito a solavancos ou desvios de percurso comprometedores. Mas é o que se tem, e numa visão mais otimista o Consórcio pode ser mesmo encarado como a galinha dos ovos de ouro da região Nordeste para recuperar autonomia, tanto assim que tem inspirado Estados de outras regiões, teoricamente mais desenvolvidas, a também se consorciarem.
A economia mundial, como ensinam os seus principais teóricos e estudiosos, tem se fortalecido em blocos, dentro da filosofia de que a união faz a força – informação que já era repassada por nossos avós, mas que é desconsiderada de tempos em tempos em nome da suposta comodidade fácil, que não passa de quimera e que sugere malandragem, o que não combina com o espírito público. Vale esperar pela reforma tributária, que anda a passos de cágado no Congresso Nacional mas que pode vir a ser uma luz no fim do túnel em tempos bicudos, por pressupor uma partilha mais equitativa de recursos e benefícios entre o Poder Central e os entes situados abaixo na hierarquia como os Estados e os municípios. Havendo vontade política, como pregava o ex-governador Tarcísio Burity, as coisas se ajustam e passam mesmo a funcionar, jogando por terra o ceticismo das cassandras de esquina.
O tribuno popular paraibano João Costa e Silva, “Mocidade”, disse, certa feita, ao ministro João Agripino, que “governo é pra sofrer”. Nas palavras do próprio Agripino, que foi governador, uma das melhores definições já cunhadas sobre a natureza de uma instituição que muitos consideram afrodisíaca, a exemplo do badalado ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger. Governos têm duas ou mais faces. Para a opinião pública, o que interessa é que funcionem e justifiquem a cobrança dos altos impostos que recheiam o erário. Este é o desafio que Azevêdo começa a desvendar à frente do governo da Paraíba.