Nonato Guedes
Primeiro prefeito de João Pessoa com a restauração das eleições diretas nas Capitais em 1985, mediante Emenda Constitucional aprovada na Câmara Federal, o médico Antônio Carneiro Arnaud, sobrinho do ex-senador e líder populista Ruy Carneiro, cumpriu integralmente o mandato até o começo de 1989 mas, depois, largou a política, passando a se dedicar ao Hospital do Câncer Napoleão Laureano e à Fundação que tem o mesmo nome. Mantém-se informado e atualizado sobre as notícias políticas, mas nunca mais cogitou disputar mandatos. Ele foi, também, deputado federal em 1978, reeleito nas eleições de 1982.
Carneiro concorreu à prefeitura de João Pessoa pelo PMDB, tendo como vice Cabral Batista, do PDS. A chapa foi fruto de um chamado “acordão” proposto ao PMDB pelo então governador Wilson Braga e que causou controvérsia no interior da coligação. O deputado federal Antônio Mariz, que havia perdido a eleição ao governo para Braga em 82, preferiu ficar neutro na campanha eleitoral de 85, mas o ex-governador João Agripino Filho foi aos palanques e declarou apoio a Carneiro. A chapa Carneiro-Cabral derrotou nas urnas a chapa Marcus Odilon Ribeiro Coutinho(PTB)-Gilvan Navarro, este, cunhado do ex-governador e então deputado federal Tarcísio Burity. A diferença final foi de cerca de 10 mil votos, considerada “uma vitória de Pirro” por analistas políticos, levando em conta que pelo menos três máquinas governamentais – federal, estadual e municipal respaldaram a candidatura de Carneiro. Os vitoriosos, porém, avaliaram como muito positivo o resultado eleitoral.
A aliança entre braguistas e peemedebistas fora concebida para ter desdobramentos na eleição majoritária estadual do ano seguinte – 1986 – quando estava em jogo o controle pelo governo da Paraíba. O pacto, entretanto, não foi adiante, atropelado por fatores da dinâmica política. Burity ensaiou uma aproximação com o PMDB e sinalizou que poderia apoiar a candidatura do senador Humberto Lucena ao governo em 86. Problemas de saúde que levaram à internação de Humberto no Incor em São Paulo conspiraram contra as teorias e o senador enviou uma proclamação ao eleitorado paraibano abrindo mão da postulação e lançando-se candidato à reeleição ao Congresso. Nesse ínterim, já na undécima hora dos prazos de filiação, Burity abandonou o PFL e assinou ficha no PMDB, em pouco tempo sendo adotado como candidato a governador, tendo como vice o tribuno Raymundo Asfora, representante de Campina Grande. O adversário foi Marcondes Gadelha, pelo PFL, que substituiu ao empresário José Carlos da Silva Júnior. Burity ganhou por 296 mil votos de diferença, mas assumiu sem vice – o corpo de Raymundo Asfora foi encontrado com um tiro na Granja Uirapuru, nos arredores de Campina, suscitando especulações sobre suicídio ou assassinato.
Político moderado, conciliador, natural de Pombal, Carneiro Arnaud teve rápida passagem pelo PP (Partido Popular), que a nível nacional originou-se de articulação entre Tancredo Neves e Magalhães Pinto, como resposta a manobras casuísticas do regime militar contra a organização de partidos de oposição no bojo da prenunciada abertura política. A resposta mais fulminante foi o ingresso dos pepistas no PMDB, pegando de surpresa os estrategistas do Palácio do Planalto. Na condição de prefeito, Carneiro enfrentou “pepinos” como a pressão de empresários de transportes coletivos par reajuste das passagens de ônibus, sob pena de paralisação do sistema. Diante da demora do prefeito em se posicionar, o então governador Burity decretou uma espécie de ”intervenção branca”, criou às pressas uma empresa estatal de transporte público denominada Setusa, que no dia da greve de ônibus regulares garantiu a livre circulação de pessoenses em todos os pontos da cidade, esvaziando o movimento patrocinado pelos proprietários. Abstraindo isso, Carneiro fez investimentos e deixou obras marcantes em João Pessoa, o que o faz dizer que tem a consciência tranquila por ter procurado fazer o melhor pela população da Capital.