Nonato Guedes
Natural de Sousa e formada em Direito, com especialização em administração, a ex-secretária Livânia Maria Silva Farias tem se constituído no “terror” de agentes públicos implicados na Operação Calvário que versa sobre desvio de recursos da Saúde e da Educação em gestões do socialista Ricardo Coutinho na prefeitura de João Pessoa e no governo do Estado. Livânia começou a atuar sob as ordens de Ricardo ainda na prefeitura e ganhou poder no governo do Estado, onde passou pela pasta da Administração, tendo registrado passagens, também, por Cabedelo. Ela era figura-chave no esquema de receptação de dinheiro e pagamento de propinas a políticos e agentes públicos e privados indicados por Ricardo.
Presa numa das fases iniciais da Operação Calvário, quando retornava de Belo Horizonte, foi afastada de cargo de primeiro escalão que continuava a ocupar no governo João Azevêdo. Suas delações à Polícia Federal têm sido as mais bombásticas da Operação Calvário, com riqueza de detalhes e citação de nomes de políticos graduados e de ocupantes de postos de baixo escalão. A desenvoltura de Livânia nos seus depoimentos tem impressionado setores da opinião pública quando confrontados com áudios e vídeos que têm sido vazados. Ainda ontem, em novo trecho de áudio vazado, Livânia revelou que o empresário Daniel Gomes, da Cruz Vermelha Brasileira, teria conseguido o apoio do auditor do Tribunal de Contas do Estado, Richard Euler Dantas, para as auditorias do hospital de Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, por meio de troca de favores. Segundo a ex-secretária, o episódio teria ocorrido entre os anos de 2015 e 2016.
Livânia foi denunciada, também, em episódio de ostentação de riqueza refletido na reforma de um imóvel na cidade de Sousa, que ganhou ares de suntuosidade e que era utilizado como hospedagem do socialista Ricardo Coutinho quando governador, durante suas viagens ao Sertão paraibano. Sem ser vinculada a nenhum grupo político dos mais conhecidos na cidade sorriso, Livânia foi apresentada ao ex-governador por amigos comuns e em pouco tempo ganhou a sua confiança, demonstrando habilidade quer no desempenho de funções executivas, quer no paralelo, como operadora ativa do esquema comandado pelo que o Ministério Público qualificou de “organização criminosa”, com tentáculos por diferentes núcleos de poder do Estado.
Na delação sobre Daniel Gomes, que vazou, ontem, Livânia revelou apenas o que este havia dito. Ela disse que questionou Daniel sobre como ia fazer para chegar até o auditor do Tribunal de Contas da Paraíba e ele teria respondido que tinha “um pessoal bom” e que iria ver como faria. Um tempo depois, de acordo com Livânia, Daniel a procurou e disse que tinha gravado a entrega de um dinheiro para o auditor do TCE, revelando que, na ocasião, o auditor queria muito que, ao invés do prédio que era alugado ao ex-senador Ney Suassuna, Daniel rescindisse o contrato e alugasse os imóveis que ele tinha. O jornal “Correio da Paraíba” registra que Livânia contou ter Daniel ficado curioso em saber como o auditor tinha os imóveis sendo apenas um auditor do Tribunal de Contas do Estado. “Segundo Daniel, fez um levantamento e descobriu que os imóveis estavam todos em nome de um sobrinho. E de fato havia vários bens com esse rapaz, que na época tinha entre 8 e 9 anos de idade. Aí ele também se preocupou em fazer um levantamento para saber do que os pais do menino viviam e disse que não se justificava o que os pais ganhavam com o patrimônio do menino”. De conformidade com Livânia, o empresário Daniel Gomes chegou a dizer que havia locado alguns espaços do auditor, mas não adiantou quanto ou onde eram os imóveis e se a transação se deu pela Cruz Vermelha ou por outra empresa. “Mas Daniel disse que iria fazer o que auditor pediu”, concluiu Farias.