Nonato Guedes
Os socialistas que são considerados discípulos fiéis do ex-governador Ricardo Coutinho estão desarvorados com o impasse reinante dentro do PSB com vistas ao lançamento de chapa para disputar as eleições à prefeitura de João Pessoa este ano. A situação se agravou com o envolvimento do ex-governador em depoimentos já prestados no âmbito da Operação Calvário, que apura desvios de recursos da Saúde e Educação. Ricardo vinha sendo apresentado como o grande trunfo do PSB para retomar o controle da prefeitura – que ele conquistou em duas eleições consecutivas, as de 2004 e 2008. Tal como Lula no PT, para presidente da República, como disse a deputada Gleisi Hoffmann, Coutinho é tratado como “insubstituível” no PSB paraibano, quer à prefeitura, quer, novamente, ao governo estadual.
Desde que deixou o governo e rompeu com o sucessor, João Azevêdo, que se mantém sem partido, Ricardo tem operado para fortalecer a legenda que preside, inclusive, como tática para compensar defecções de deputados que, embora ainda permaneçam filiados ao PSB, já conversam sobre migração para outras agremiações. O primeiro passo, de impacto, detonado por Ricardo, nessa missão, foi a destituição da antiga direção estadual do PSB, presidida por Edivaldo Rosas, secretário de Governo de João Azevêdo. Para executar a operação, o ex-governador contou com o aval da cúpula nacional socialista. Ele próprio passou a presidir uma comissão provisória estadual, enquanto a deputada estadual Estelizabel Bezerra foi ungida na presidência do diretório municipal em João Pessoa.
A evolução das investigações da Operação Calvário, com citações frequentes ao seu nome, atropelou quaisquer iniciativas do ex-governador Ricardo Coutinho para fazer o PSB avançar. Ele ainda conduziu uma manobra que colocou o deputado federal Gervásio Maia à frente do partido, mas Gervásio se queimou, também, com menção em depoimentos de investigados na Calvário. Presidente da Fundação João Mangabeira, um instituto de estudos políticos do PSB nacional, Coutinho tem se ausentado de eventos da FJM em outros Estados e já explicou que seu comparecimento não é obrigatório, o que foi referendado pela cúpula nacional.
As deputadas estaduais Estelizabel Bezerra e Cida Ramos, que compõem o núcleo de confiança irrestrita de Ricardo Coutinho, seriam alternativas do PSB para concorrer à prefeitura, mas além de estarem desgastadas por envolvimento na “Calvário”, já foram derrotadas como candidatas à edilidade, em 2012 e 2016, por Luciano Cartaxo (PV). Em meio à indefinição e ao impasse, o ex-governador Ricardo Coutinho não sinaliza propósito de apoiar nome oriundo de outro partido de esquerda na cabeça de chapa. No reverso da medalha, começa a impacientar aliados, a exemplo do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa. A presidente do diretório municipal pessoense, Giucélia Figueiredo, já avisou que em qualquer cenário o PT terá participação ativa na disputa, o que foi entendido como sinal de que não ficará refém do cronograma pessoal de Ricardo ou dos humores dos socialistas locais.