Nonato Guedes
A indicação do conterrâneo Leonardo Rolim para a presidência nacional do INSS não se deu pela força de nenhum lobby político – ele nunca foi afeito às coisas da política e não há registro de que haja grupo na estrutura de poder da Paraíba com cacife para bancar indicações desse tipo. Leonardo foi uma escolha técnica e pessoal do presidente Jair Bolsonaro, que já o havia convocado para a secretaria nacional da Previdência, ante-sala para o gabinete de presidente do órgão, justamente pelo mérito, pela competência e pelo domínio de temas complexos da Seguridade Social. Já havia sido sabatinado pelo capitão e teve papel importante, nos bastidores, na confecção do projeto de reforma previdenciária que detonou polêmica no Congresso mas que acabou sendo aprovado, ofertando ao mandatário uma vitória que nem todo o esforço de persuasão dos governos Lula logrou alcançar.
É uma pena que líderes políticos da Paraíba estejam tão desinformados sobre a geografia do poder que se implantou em Brasília a partir da ascensão de Jair Bolsonaro. Alguns desses líderes, ainda ontem, procuravam “checar” as origens de Leonardo Rolim, irmão das jornalistas Lena Guimarães (in memoriam) e Lúcia Rolim, esta radicada em Brasília e com trânsito nas esferas de poder. Mais do que confirmar o DNA do novo presidente do Instituto Nacional da Seguridade Social, tais lideranças estavam mesmo empenhadas em “descobrir” quem apadrinhara a nomeação. É disso que alguns políticos se ocupam de forma obsessiva para medir tamanho de prestígio ou influência – deles e dos adversários. Já faz algum tempo que a bancada paraibana não emplaca nomes em funções estratégicas, importantes para o deslanche do projeto de desenvolvimento do nosso Estado que ficou congelado com o desabrochar dos escândalos que alimentam a Operação Calvário, deflagrada pelo Ministério Público e Gaeco.
Ainda bem que o velho fisiologismo político não é mesmo a moeda corrente nestes tempos controversos. Bolsonaro, que emergiu na corrida presidencial como um outsider, embora tivesse trajetória política adiantada, a partir de mandatos como deputado pelo Rio de Janeiro, não demonstra lotear o governo conforme os apetites de eventuais aliados ou apoiadores. De um modo ou de outro, dá um jeito de contornar as pressões, o famigerado “lobby”, e impor escolhas que consultam mais a sua consciência, ou sua preferência, do que os interesses das eternas abelhas voadoras orbitando em torno do poder. Não se quer dizer que Bolsonaro tem um ministério repleto de “sumidades”. Pelo contrário, há mediocridades, como a ministra da Família, Damares Alves, conhecida pela “terraplanagem” de conceitos que emite ou o abusado ministro da Educação, um certo Abraham Weintraub, a maior calamidade que poderia se abater sobre o ensino neste país na Era bolsoriana.
O desaguisado ideológico que prolifera no governo, com espaço para aberrações patrocinadas por um tal Olavo de Carvalho e seus “olavetes”, entre os quais figuram membros da prole presidencial embevecidos com um pensador sem estilo, tem sido responsável pela paralisia e pelo verdadeiro samba de crioulo doido em que está convertido o ministério da Educação. Ainda agora, a Pasta brindou o país com propaganda enganosa sobre as virtudes do Enem, até que se verificou que tal produto era uma falácia e que, por conta da irresponsabilidade do ministério e do seu titular, pré-vestibulandos foram penalizados e o conceito do Brasil no que seria um modelo tipo exportação despencou vertiginosamente com a velocidade de um raio.
São nichos que aguardam uma vassourada por parte do presidente. Ou um murro na mesa, capaz de despertar cabeças adormecidas por um certo projeto ufanista de poder que não contempla a realidade dos avanços democráticos experimentados pelo Brasil. Ainda bem que a economia parece resistir aos solavancos, uma marca constante desse governo, os quais já tiveram o condão de reduzir o tamanho da importância do ministro da Justiça, Sérgio Moro, a princípio tratado como super-ministro pelo próprio presidente e encarado por setores da opinião pública como fiador das metas de governo, diante da credibilidade alcançada quando juiz da Lava-Jato.
O presidente do INSS, Leonardo Rolim, tem um grande desafio pela frente que é legitimar na prática a reforma da Previdência, ponto cardeal do governo do capitão. A materialidade de execução do que foi concebido como projeto é a chamada prova dos noves. Não bastou ao governo ter confeccionado propostas e se empenhado junto a deputados e senadores a fim de obter seu beneplácito. É preciso mostrar serviço à exigente sociedade. As filas em postos do INSS misturam-se à desinformação sobre qual é a face verdadeira da reforma aprovada. Urge que se acelere a implementação do que estava no papel e urge que o presidente dê a Leonardo Rolim o cabedal de que ele precisa para consolidar um novo sistema mais justo. Ninguém faz milagres, como sabe muito bem o próprio presidente Jair Bolsonaro, que não é mais “mito” como, de resto, nunca foi o “Messias” decantado na campanha.