Enquanto o ministro Onyx Lorenzoni está em férias, com previsão de retorno ao trabalho no dia três de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro comanda o esvaziamento de funções da Casa Civil, da qual Lorenzoni é titular. Dois dias depois de demitir pela imprensa o número dois da pasta, Vicente Santini, o presidente anunciou ontem a transferência do PPI (Programa de Parceria de Investimentos) da Casa Civil para a Economia, gesto que enfraquece Onyx mais ainda. O ministro foi um aliado de primeira ordem de Bolsonaro durante a campanha eleitoral e o período de transição, dos quais participou no papel de coordenador.
Todavia, desde que assumiu a Casa Civil, Lorenzoni, que é deputado federal pelo DEM-RS e está licenciado do mandato, viu seu poder diminuir gradualmente. Em junho de 2019, ele já havia perdido a função de articulador político, hoje na Secretaria de Governo e na Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), transferida para a Secretaria-Geral. Desde o ano passado, Bolsonaro estuda fazer mudanças na sua equipe ministerial mas aguardava um momento oportuno para anunciá-las. Ele adiou a tomada de decisões no fim de 2019 para negar o noticiário da imprensa de que ele estava prestes a trocar as chefias da Casa Civil e do Ministério da Educação.
Aliados do presidente revelam que o caso Santini surgiu como a desculpa perfeita para que ocorra a reformulação da equipe – ele teve sua saída da secretaria-executiva anunciada pelo próprio Bolsonaro depois de ter usado um voo exclusivo da FAB para se deslocar de Davos, na Suíça, para Nova Déli, na Índia. O presidente classificou o episódio como inadmissível e imoral. Santini, porém, foi nomeado na noite de quarta-feira para outra função na Casa Civil, como assessor especial da Secretaria Especial de Relacionamento Externo, para ganhar um salário apenas R$ 300 menor. A repercussão negativa levou a novo recuo de Bolsonaro em menos de 12 horas, quando anunciou que vai tornar sem efeito a admissão de Santini para novo posto.
A avaliação nas rodas de Brasília é de que Santini serviu apenas como bode expiatório para o enfraquecimento do chefe da Casa Civil. Especula-se que o presidente examina a hipótese de destacar Onyx para a articulação política mas com um cargo no Congresso, onde ele é deputado. Se a saída de Onyx for confirmada, entre as possíveis soluções está a de o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, assumir interinamente. Outro desenho estudado é devolver a Casa Civil à SAJ, o que transferiria Jorge Oliveira da Secretaria-Geral para a pasta. Além da Casa Civil, outra mudança é cogitada na Educação. No Palácio do Planalto, a troca do ministro Abraham Weintraub é dada como provável. O presidente, que já reclamou da postura do ministro em entrevista à imprensa, ficou irritado com os problemas técnicos no Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio. Nos últimos das, deputados aliados defenderam ao presidente a necessidade de se trocar o comando da pasta para evitar que a imagem do governo seja contaminada pelas polêmicas criadas por Weintraub.