Nonato Guedes
Oriundo da cidade de Cajazeiras mas com nome e imagem já consolidados em João Pessoa, pela sua atuação em emissoras de rádio e de televisão apresentando programas populares de audiência em que se faz interlocutor das demandas da rotina da Capital que persegue o ritmo de metrópole, Nilvan Ferreira não é filiado ainda a partido político, o que não o impede de estar em evidência desde agora como alternativa no cenário da disputa para prefeito da antiga Felipéia de Nossa Senhora das Neves. O encontro com o eleitor nas urnas está marcado para outubro, o que facilita a estratégia do radialista para adquirir maior visibilidade sem estar associado a propaganda subliminar que fira a legislação. O comunicador, que comanda programas interativos no Sistema Correio de Comunicação, investe no figurino de “candidato de protesto” – aquele que é contra “tudo isso, de errado, que está aí”.
Se levar adiante o projeto que abraça em paralelo com o mister profissional, empalmando candidatura à curul municipal, Nilvan poderá fazer um estrago nos redutos de candidatos que confiam no poder das máquinas partidárias ou de governos, como se elas obrassem o milagre de injetar votos, por osmose, em postulações que eventualmente não combinem com a vontade popular. Apesar de a maioria do eleitorado pessoense optar pela escolha de candidatos moderados ou com perfil de executivo realizador, o humor do cidadão que vai votar oscila de acordo com as conjunturas. Tal eleitor não é refratário, por exemplo, a candidaturas de protesto, inclusive, porque com a eclosão da Operação Calvário envolvendo remanescentes dos governos de Ricardo Coutinho, desde que foi prefeito, passando pelas duas vezes em que administrou o Estado, a desilusão com a gestão pública se acentuou com toques de revolta.
Luciano Cartaxo, mesmo quando concorreu pela primeira vez à prefeitura de João Pessoa, em 2012, pela legenda do Partido dos Trabalhadores, então coalhada de “xiitas”, trilhou o rumo da moderação e incorporou elementos conservadores à sua plataforma, de modo a não assustar segmentos sociais que, em última análise, respondem pelas definições nos prélios eleitorais. Este era o perfil cobrado, digamos, a moeda corrente, nesses ciclos, e foi assim que Cartaxo adquiriu confiança junto ao eleitorado e pavimentou o terreno para estar onde chegou. Claro que Cartaxo soube dosar a linguagem com o jeito de candidato proativo, vocacionado para gerir problemas e desencadear obras, o que sensibilizou de forma fulminante as parcelas que decidem eleições. Uma outra vertente da manifestação popular é o protesto, que vem em forma de explosão.
Essa radiografia não significa que as duas gestões de Luciano Cartaxo não tenham falhas ou omissões clamorosas em áreas estratégicas de interesse para a população – ainda agora, o lixo se acumula nas ruas e demais logradouros de João Pessoa por indiscutível descaso da prefeitura, que não concretizou em tempo útil o processo de licitação para habilitar empresa à coleta dos entulhos que fazem parte da rotina dos habitantes da Capital. Sem dúvida, desídia imperdoável por parte do prefeito Cartaxo e de sua equipe, que avançando por oito anos de mandato, ainda não parecem familiarizados com o cronograma anual das demandas. Um caso sério, mas pontual, que, no entanto, não escapará da lupa dos adversários interessados em explorar o flanco do postulante (ou da postulante) que o alcaide atual venha a ungir.
Em algumas áreas alega-se que Nilvan Ferreira pode vir a se perder no curso da disputa eleitoral se adotar estratégia de partir para estadualizar a sua campanha, desviando-se do foco da eleição municipal em que irão aflorar as reivindicações específicas envolvendo João Pessoa e o seu entorno na região metropolitana. O comunicador, que é bem informado e tem “feeling” próprio, naturalmente já está ciente dos riscos embutidos em táticas imprevisíveis. É escolado o suficiente para saber que o eleitorado é cada vez mais exigente e consciente do que lhe interessa. O exercício da Cidadania, afinal de contas, ganhou força com as conquistas pontuais que, somadas no conjunto, traduzem uma realidade de crescimento e de marcha indeclinável no rumo do desenvolvimento. Prefeitos, por outro lado, em geral são tidos como “zeladores” das questões comezinhas das cidades sob seu pálio.
É fato, também, que de candidatos a prefeito exige-se não apenas o diagnóstico, refletido na denúncia veemente, esculpida sob medida para emocionar o eleitor, mas, também, a proposta de solução, que deve estar bem fundamentada para que não seja desacreditada como “promessa de caçador de votos”. Todo esse corolário pesará no somatório que o dono do sufrágio se permitirá perfazer para embasar a livre manifestação a ser depositada nas urnas. Pode parecer tudo muito teórico e, por via de consequência, complicado. Todavia, analisada com imparcialidade, é a equação mais simples que se pode formular como subsídio indispensável à interpretação ou exegese da tendência do eleitorado e, lá na frente, do seu resultado. Quanto à candidatura de Nilvan, é “fator” que não deve ser subestimado, pelo potencial que, ajustado aos ventos da dinâmica vigente, tem condições de agregar, desestabilizando cenários traçados em gabinetes movidos a ar condicionado, longe da voz rouca das ruas.