Nonato Guedes
Parece simplista demais atribuir a mero tropismo em demanda do poder de plantão, simbolizado pelo governador João Azevêdo, o processo de debandada que se acentuou, ontem, nas hostes do PSB com o anúncio da desfiliação de vinte e dois prefeitos, de municípios situados entre o Cariri e o Sertão da Paraíba. A migração em massa, que alcançou, também, a Câmara Municipal de João Pessoa, com decisão da vereadora Sandra Marrocos de largar os “girassóis” para fazer o caminho de volta ao PT, e que já havia feito estragos na bancada de deputados estaduais, reflete o isolamento político vivido pelo ex-governador Ricardo Coutinho, diante da sua citação em escândalos investigados na Operação Calvário. Aposta na mesa: quem apagará a luz no PSB – Ricardo, a deputada Estelizabel Bezerra ou o deputado federal Gervásio Maia? Talvez os três, juntos.
Para além do tropismo, quem ditou a debandada foi o instinto de sobrevivência. Políticos precisam continuar militando se quiserem exercer mandatos outorgados pelo povo. Em paralelo, é desgastante “colar” a imagem a uma agremiação que em nosso Estado atolou-se na lama e jogou no lixo o ideário que pregava ética e transparência na coisa pública. Não se pode inquinar a vereadora Sandra Marrocos, por exemplo, de oportunismo. Ela deixou o PSB não para ficar à sombra do governo Azevêdo, mas para fazer a viagem de volta ao PT, que também está desgastado, nacionalmente, com a prisão e as denúncias oferecidas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, no entanto, o PT pareceu a Sandra a opção possível dentro das condições de temperatura, pressão e instabilidade que permeiam o triste cenário paraibano.
Coincidindo com o desfecho melancólico da história do PSB na Paraíba, o governador João Azevêdo oficializou uma definição que já estava tomada – a de assinar ficha de filiação no “Cidadania”, que em tese preserva ideais de esquerda, o que contribui para tornar JA menos vulnerável ao jogo do fisiologismo que ainda atravessa as relações políticas no país, como uma praga aparentemente enquistada de forma irreversível. Essa opção do governador atenua, em parte, o bombardeio contra ele no campo ideológico e, sobretudo, dá-lhe a vantagem de dispor de um partido para chamar de seu, da mesma forma como Ricardo é senhor de baraço e cutelo do PSB. O isolamento político do ex-governador espelha traços de sua personalidade, que se dividem entre a centralização e o personalismo e que já eram conhecidos da opinião pública paraibana. E confirmam a impressão que se tem sobre ser Ricardo um “iconoclasta”, que destrói seus próprios mitos.
Um detalhe que chama a atenção é que as labaredas seguem queimando o Partido Socialista Brasileiro no Estado sem que a cúpula nacional, cientificada do incêndio, tome alguma providência para deter a sangria. O que querem dizer as entrelinhas desse posicionamento atípico da cúpula do PSB, presidida pelo senhor Carlos Siqueira? Aliás, o que a cúpula nacional do PSB tem a dizer ao povo paraibano sobre as acusações contra seu filiado Ricardo Coutinho, que resvalam diretamente em cima das experiências de gestão “socialista” no Estado? O modelo administrativo empalmado por Ricardo e mesclado com lances policialescos é mesmo a “novidade” que o PSB tem a vender à praça, pretextando diferenciar-se dos partidos tradicionais ou oligárquicos? Cuidado, pois o jogo de palavras tem limites!
Não é costume, entre nós, brasileiros, adjetivar sistemas políticos, diante da prudência de não se descambar para a generalização superficial. Assim, da mesma forma como o jurista Sobral Pinto ironizou, em época distinta, que não havia “democracia à brasileira”, sendo do seu conhecimento apenas o prato “peru à brasileira” que enfeita cardápios de variados restaurantes, não parece inteligente nominar um provável “socialismo à paraibana”. Antes, o rótulo chega a ser ofensivo aos neurônios de pessoas que compõem segmentos médios da sociedade, não se prestando, sequer, a analogias históricas, por óbvia inconsistência de fundamentação ou argumento teórico.
O iconoclasta PSB paraibano patrocina o próprio desmonte num ano marcado por disputas eleitorais que voltarão a prender as atenções dos cidadãos e cidadãs do país, dividindo-as com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, no Japão. Ou seja, no que tange à política, o período será de polarizações e demonstrações de força de legendas e seus respectivos representantes, tendo como pano de fundo o controle não apenas da prefeitura de Zabelê, no interior paraibano, mas a posse de prefeituras de centros influentes como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus, Recife. É uma eleição cujo saldo deverá varrer o maniqueísmo entre PT e PSDB, abrindo espaço para o teste de outras opções ou de fenômenos sazonais que costumam pipocar em fases assim. Para quem esteve no poder até dezembro de 2018, é um desmonte e tanto o que acomete as hostes ainda lideradas por Ricardo Coutinho, sem fichas numa disputa que poderia redimi-lo e ao grupo que formou no seu entorno…