Nonato Guedes
A nova legislatura que se instala a partir de quarta-feira na Casa de Epitácio Pessoa será uma espécie de “prova dos noves” para a gestão do governador João Azevêdo (Cidadania). Diante dele, está a oportunidade de aferir percentuais de lealdade e fidelidade no plenário da Assembleia, testando-se por meio de matérias polêmicas encaminhadas à Mesa Diretora, a exemplo da nova Previdência estadual e da Fundação PB Saúde, órgão que substituirá organizações sociais expurgadas da Paraíba por envolvimento em escândalos na administração pactuada da Saúde. “É como se o governo de Azevêdo estivesse começando, para valer, agora, virada a página da convivência tumultuada com o ex-governador Ricardo Coutinho”, obtempera um interlocutor com linha direta junto ao chefe do Executivo.
Num esforço para ganhar tempo e consolidar metas e projetos, o governador de plantão agilizou a definição do novo partido de onde comandará estratégias de ocupação de espaços na conjuntura paraibana. Foi uma medida providencial em face da justa cobrança que vinha sendo feita por líderes municipais que estarão enfronhados em disputas acirradas por prefeituras e câmaras de vereadores em outubro próximo. Pessoalmente, o governador poderia se dar ao luxo de permanecer sem partido por mais tempo, já que não é parte diretamente envolvida no jogo das urnas deste ano. Mas não há líder sem um partido. Ainda agora, o presidente Jair Bolsonaro, que se sentiu desconfortável no PSL e dele se desfiliou, arregaça as mangas para viabilizar o Aliança pelo Brasil, a fim de acomodar seus discípulos e aliados desgarrados de uma organização partidária.
A expectativa acerca do tamanho do “Cidadania” na Paraíba é normal e está na lógica do questionamento sobre a performance de Azevêdo como dirigente partidário. Até então, ele não tinha essa preocupação – quando estava filiado ao PSB cabia ao ex-aliado Ricardo Coutinho resolver tudo, quer de forma direta, quer de forma indireta, mas emblemática da sua onipresença ou do registro das suas digitais em tudo o que dissesse respeito ao andamento do socialismo tupiniquim, convertido em agrupamento girassol. Quando tentou ensaiar um rateio de influência na agremiação, fortalecido pela condição de governador, Azevêdo tomou uma rasteira de Coutinho, que perpetrou espécie de intervenção, dissolvendo o antigo diretório regional, destituindo a direção confiada a Edivaldo Rosas, que se bandeou para as ilhargas de João, e avocando a si o controle soberano, absoluto, da legenda.
Como nada é perfeito, no reverso da medalha Ricardo amargou uma debandada sem precedentes nos anais do PSB tabajara, refletido no desligamento de mais de duas dezenas de prefeitos e no anúncio de desfiliação de deputados estaduais que se sentiram sem espaço e não escondem o afã de se compor com o inquilino atual do Palácio da Redenção. Os “ricardistas” fazem uma força danada para não somatizar o estrago ou passar recibo de fragilidade. Agarram-se ao pretexto de que a debandada abre campo para a “depuração” de quadros. Ou seja, o caminho está livre para a atração de “socialistas quimicamente autênticos”. Ou seriam “ricardistas”, conhecendo-se, como se conhece, o mantra do culto à personalidade praticado nas hostes do guru dos irresignados?
Seja como for, João Azevêdo terá que se dividir entre governar e politicar – ele que vinha aparentemente fugindo de outras responsabilidades para não perder o foco da gestão, que é o que dará o selo de qualidade à sua passagem pelo Executivo paraibano, podendo credenciá-lo, ou não, no concerto das lideranças políticas que atuam no Estado. Em última análise, levando-se em conta que a base governista é expressiva e não está concentrada necessariamente na órbita do “Cidadania”, que ainda vai perseguir estágio de fortalecimento, Azevêdo poderá contabilizar ao final das eleições de outubro um saldo precioso. Se não lograr, no cômputo final, vitória acachapante de candidatos que vier a apoiar, poderá alcançar vitórias pontuais que motivarão novos aliados para embates futuros cruciais.
O governador só não pode abrir mão de uma assessoria política habilidosa e proativa, que esteja familiarizada com o burocratês do funcionamento de entidades partidárias e seja versada, ao mesmo tempo, na costura de alianças realmente importantes para oxigenar o agrupamento que ele intenta formar em contraposição a outros esquemas que já se movimentam com desenvoltura bafejados pela experiência acumulada nesse mister. O protagonismo dos chamados “tarefeiros” é de fundamental importância para fornecer musculatura à estruturação do “Cidadania” e, em paralelo, para garantir a tão ansiada governabilidade, menina dos olhos de Azevêdo depois que ficou livre da influência avassaladora de Ricardo.