Nonato Guedes
No dia 17 de setembro de 2015, o Partido dos Trabalhadores perdia o único prefeito de capital nordestina, eleito em 2012 – Luciano Cartaxo, que foi reeleito em 2016 e está concluindo o último ano do segundo mandato como gestor de João Pessoa. A desfiliação causou revolta e protestos de dirigentes e filiados petistas, que acusaram Cartaxo de “traidor”. O prefeito foi taxativo ao se explicar através da imprensa: “A decisão de deixar o PT foi bem pensada e refletida. É uma decisão, acima de tudo, para quem tem coragem”. Luciano alegou como razão a situação vivida pelo PT no plano nacional, com o envolvimento em escândalos como o do mensalão. “Temos a clareza de que não podemos ser penalizados por erros de terceiros, por questões que aconteceram no cenário nacional”, enfatizou Cartaxo.
Ele deixou o PT para se filiar ao PSD, Partido Social Democrático, presidido a nível nacional pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab e, no plano estadual, pelo deputado federal e ex-vice-governador Rômulo Gouveia, por sua vez originário do PSDB. Luciano foi filiado por cerca de vinte anos ao Partido dos Trabalhadores – iniciou a trajetória elegendo-se vereador à Câmara Municipal de João Pessoa, depois tornou-se vice-governador da Paraíba, deputado estadual e, finalmente, prefeito da capital. Em março de 2018, Cartaxo rompeu com o PSD e ingressou no Partido Verde, onde permanece. Foi cogitado como candidato ao governo por um segmento das oposições no pleito de 2018, mas decidiu permanecer até o último dia no cargo de prefeito. Em seu lugar, o PV indicou ao Palácio da Redenção o irmão gêmeo de Luciano, Lucélio Cartaxo, que disputara uma vaga ao Senado em 2014 e perdeu. Na corrida pelo governo, Lucélio ficou em segundo lugar, bem distante do candidato eleito, João Azevêdo, então PSB, que vitoriou com o apoio do então governador Ricardo Coutinho. Os dois romperam em 2019, no início da gestão de Azevêdo.
Na disputa a prefeito de João Pessoa em 2012, o esquema político do governador Ricardo Coutinho lançou a candidatura da jornalista Estelizabel Bezerra, que não avançou, sequer, para o segundo turno. Este foi disputado entre Luciano e o senador Cícero Lucena (PSDB), reproduzindo a polarização nacional entre petistas e tucanos. Cartaxo contou com o apoio do prefeito Luciano Agra, que era vice de Ricardo Coutinho e assumiu com a saída deste para concorrer ao governo em 2010. Agra tentou viabilizar uma candidatura à reeleição pelo PSB, mas foi vetado por ação direta de Ricardo Coutinho. Em represália, declarou simpatia por Cartaxo, que atraiu para sua vice o jornalista Nonato Bandeira, presidente do ex-PPS, atual secretário de Comunicação do governador João Azevêdo (Cidadania). Em 2016, já pelo PSD, Cartaxo foi reeleito em primeiro turno, derrotando candidaturas como a de Cida Ramos (atual deputada estadual), lançada pelo esquema ricardista.
Ao se desfiliar do Partido dos Trabalhadores, Luciano Cartaxo provocou a entrega pelo PT de secretarias que ocupava na administração pessoense, entre as quais pastas tituladas por Adalberto Fulgêncio, Eder Dantas, Lucius Fabiani, Hildevânio Macedo. Alguns deles foram mantidos nas secretarias, mas nem todos acompanharam a nova opção partidária do prefeito, que atraiu adesões de vereadores da base no legislativo da Capital. O presidente do diretório estadual petista, Charlinton Machado, não escondeu sua estranheza diante do comportamento tomado pelo prefeito Luciano Cartaxo, enquanto outros dirigentes rebateram, com veemência, as denúncias contra petistas, asseverando que o PT não era um partido de corruptos.
Em fevereiro de 2009, Luciano Cartaxo foi investido como vice-governador juntamente com José Maranhão (PMDB), que havia concorrido ao governo em 2006. A investidura decorreu de decisão do Tribunal Superior Eleitoral que cassou a chapa Cássio Cunha Lima (PSDB)-José Lacerda Neto (PFL), eleita em 2006, sob alegação de suposta improbidade, o que levou Cássio a se dizer vítima do maior erro judiciário da história do país. Em 2010, Maranhão disputou a reeleição, trocando o vice – no lugar de Luciano Cartaxo, anunciou o deputado Rodrigo Soares, que assumira a presidência estadual do PT. A chapa foi derrotada por Ricardo Coutinho, que tinha o apoio de Cássio Cunha Lima. Luciano Cartaxo, no mesmo ano, candidatou-se a deputado estadual, sendo vitorioso com quase 25 mil sufrágios. Seu futuro político é indefinido – ele mesmo não oferece qualquer pista sobre isso, mas o nome de Cartaxo continua em pauta para concorrer ao governo do Estado. Antes, a sua prioridade é eleger o sucessor, cujo rosto ainda não é conhecido da população.