Nonato Guedes
Em meio a preparativos para a eleição de prefeitos e vereadores em Capitais e demais cidades do território nacional, o Partido dos Trabalhadores volta a ficar refém do pêndulo político na Paraíba, principalmente em João Pessoa, onde encontra visíveis dificuldades para forjar uma candidatura própria competitiva a prefeito. O presidente estadual da legenda, Jackson Macêdo, anuncia para sexta-feira uma reunião que deverá decidir o posicionamento do PT em relação ao governo João Azevêdo. Setores do partido vinham defendendo abertamente apoio a uma suposta candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) à sucessão de Luciano Cartaxo, mas o cenário embolou quando Ricardo e o sucessor por cuja vitória se empenhou em 2018, João Azevêdo, romperam. Para completar, o governador atual se desfiliou do PSB e já está aboletado no “Cidadania”, recrutando prefeitos e deputados para fortalecer a agremiação.
Ricardo, enquanto isso, enfrenta a continuidade do inferno astral que se desenhou desde a eclosão da Operação Calvário – na qual chegou a ser preso por um dia – e que reflete investigação do Ministério Público e Gaeco com apuração dos passos de uma organização criminosa que se instalou no governo do Estado no período empalmado por ele, em sincronia com organizações sociais vencedoras de licitações para gestão pactuada da Saúde Pública e, também, da Educação. O PT mantém espaços no governo de João Azevêdo, de que é exemplo secretaria relevante ocupada pelo ex-deputado federal Luiz Couto, que, não obstante, não tem tido maior projeção à frente da Pasta. A cúpula petista paraibana cuida que o cenário atípico impõe uma reavaliação, no que está certa.
Para além da ocupação de cargos ou o desfrute de benesses em governo, o grande desafio que se coloca para o PT paraibano é o de tentar retomar protagonismo na conjuntura política-partidária local. A agremiação, que lançou candidato a governador já em 1982, com o advogado Derly Pereira,quando praticamente estreou no quadro nacional, vinha se alternando entre o protagonismo e o papel de coadjuvante em pleitos diferenciados no Estado, aliando-se a forças distintas aboletadas em outras siglas, teoricamente próximas do decantado ideário petista ou afinadas com ele. A dados de hoje, é crítica a posição do PT, tanto para a eleição a prefeito de João Pessoa, como a governador, em 2022. Os escândalos nacionais que se sucederam e que culminaram com a prisão do próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quebraram a espinha dorsal do petismo, privado de identidade ética por cuja propaganda tanto lutou.
Na Paraíba, o partido, que no seu nascedouro vetou alianças com nomes de expressão junto ao eleitorado como os de Antônio Mariz, Lúcia Braga e Marcondes Gadelha, hoje não tem com quem se compor e, pior ainda, não tem quadros que o façam se impor, produzindo, pelo menos, candidaturas próprias em centros influentes ou estratégicos como João Pessoa e Campina Grande. Ficar a reboque de outros nem sempre pode ser um bom negócio – como o petismo está constatando na pele ao acompanhar o noticiário quase diário envolvendo o nome do ex-governador Ricardo Coutinho como associado a práticas nada republicanas na história política-administrativa da Paraíba. Aliás, Ricardo saiu do PT quase expulso quando inventou de se oferecer à legenda como candidato a prefeito de João Pessoa no início dos anos 2000.
Naquela época, a pretensão de Coutinho foi tomada como “heresia”, espécie de “sacrilégio”, pela cúpula petista local, que tinha nomes da sua própria patota para enfeitar chapas nunca triunfantes em eleições majoritárias, exceto a que Luciano Cartaxo encabeçou em 2012. Cartaxo, como se sabe, migrou, depois, para o PSD e, na sequência, para o PV. Nunca mais cogitou sequer ouvir falar do PT. Já Ricardo Coutinho, que buscou sobreviver à frente do PSB quando lhe faltou terra nos pés dentro do PT, governou sem dar maior atenção aos petistas locais, focado em outras alianças ou em quadros recrutados na sua própria “turma”.
Ricardo só se reaproximou do Partido dos Trabalhadores por oportunismo político, ao pressentir o isolamento que já o acometia, após ter renegado líderes como o atual senador José Maranhão (MDB) e o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB). O petismo local comprou a fatura da reaproximação de Ricardo sem aviá-la melhor – e mais uma vez se acomodou, deixando a própria retaguarda a descoberto. Quando se deu o pipoco da Operação Calvário, os petistas ficaram com a cara no chão, embora a infração ética parecesse comum ao ex-presidente Lula e ao ex-governador Ricardo Coutinho. O que o PT paraibano precisa, mesmo, é definir se caminhará com as próprias pernas ou se voltará a ser instrumento de líderes tradicionais que sempre combateu. A crise é de identidade – e isto resume a ópera.