Nonato Guedes
O título deste artigo é uma homenagem a mestres do colunismo político na Paraíba que recorriam a expressões, digamos, escorreitas, para analisar fatos relevantes das conjunturas que viveram nas últimas décadas. Sendo assim, é pertinente dizer-se que o meridiano da sucessão municipal em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, este ano, passará, sim, pelo crivo do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que formalmente tem adotado postura de não-envolvimento direto nas tratativas que giram em torno do candidato do esquema a que pertence. Cássio havia dito que o processo eleitoral de 2020 seria coordenado pelo atual prefeito Romero Rodrigues, que migrou do PSDB para o PSD. Foi o próprio Romero, ontem, que anunciou intenção de conversar com Cássio depois do carnaval para trocarem impressões acerca da disputa de outubro. Os dois tocarão de ouvido a partitura da eleição.
Cássio tem estado meditabundo desde o insucesso eleitoral alcançado nas urnas em 2018 na tentativa de se reeleger ao Senado, desfecho que causou perplexidade, também, em segmentos políticos que tratavam a recondução do filho do poeta Ronaldo como “favas contadas”. O prélio senatorial, entretanto, reuniu três concorrentes de peso, representantes da Rainha da Borborema: Cássio Cunha Lima, Daniella Ribeiro (PP) e Veneziano Vital do Rêgo (PSB). Foram estes últimos que o eleitorado contemplou, em desfecho que num primeiro momento Cássio atribuiu a “tsunami” político, fenômeno que teria se reproduzido em escala nacional e que corresponde a uma das inúmeras mutações a que os cotejos pelo voto estão sempre subordinados. Vale lembrar que o então governador Ricardo Coutinho (PSB), que elegeu o ex-aliado Cássio como inimigo número um, havia dito que estava obstinado em contribuir para derrotar Cunha Lima, o que sugere avaliações livres – embora subjetivas – sobre o que pode ter ocorrido a nível de bastidores.
Mas já vai ficando, mesmo, distante, o cenário de 2018, e a conjuntura impõe que se priorize vaticínios sobre as eleições municipais, em que líderes com projeção estadual e até nacional não deixarão de marcar presença, como apoiadores ou como estrategistas de “coxia”, desovando acertos políticos locais mas, sobretudo, cortejando o apoio popular e mensurando o grau de receptividade que ainda detêm junto ao flutuante eleitorado. Cássio avulta, por todos os títulos, como um líder das oposições na Paraíba. Além do mais, tem experiência de sobra no histórico das eleições travadas em Campina Grande, cidade que governou por três vezes, que o impulsionou à Câmara Federal e ao Senado e que o teve como governador eleito por duas vezes, em 2002 e 2006. No contraponto a ele, Veneziano enverga cacife respeitável, sendo a sua mulher, Ana Cláudia, cogitada como alternativa respeitável à sucessão de Romero Rodrigues, enquanto a senadora Daniella desponta como personagem de decisão de tira-teimas renhidos ou aparentemente imprevisíveis. O próprio Veneziano alicerçou liderança inconteste elegendo-se prefeito de Campina em duas oportunidades.
O prefeito Romero Rodrigues, cujo partido para o qual migrou, o PSD, é alinhado no plano nacional com o presidente Jair Bolsonaro, sendo o próprio alcaide uma figura prestigiada pelo mandatário, de que foi exemplo a presença deste em inauguração de populoso conjunto habitacional na Rainha da Borborema, tem consciência da responsabilidade que lhe pesa nos ombros, no sentido de indicar candidato a prefeito paulatinamente identificado com o projeto que tem executado há sete anos e sintonizado com a tendência do eleitorado. Rodrigues não ignora, também, que embora possa captar reflexos colaterais das conjunturas nacional e estadual, as eleições municipais traduzem, em regra, plebiscito de gestões locais e reproduzem confronto entre chefias municipais, modernas, antigas ou oligárquicas, estas invariavelmente remodeladas na roupagem para atrair mais facilmente parcelas do eleitorado mais difíceis de convencer.
Sendo assim, são as duas gestões de Romero, de 2013 para cá, que passarão pelo moedor de carne do embate eleitoral. Estarão na vitrine, dissecadas nos mínimos detalhes, reviradas pelo avesso por adversários presumidos ou inesperados, sequiosos de ascender à prefeitura no bojo do desgaste de quem está lá, com o corolário de omissões ou desacertos que desagradam inexoravelmente os eleitores mais exigentes ou mais politizados. Não há milagres em eleição, embora gestores possam escapar milagrosamente de execração maior ou de bombardeio mais intenso, em último caso, de derrotas acachapantes. A aspiração de Romero situa-se entre a consagração pela vitória ou um resultado honroso que o credencie no rol dos homens públicos festejados e reconhecidos por uma quase metrópole que emana influência não apenas pela Paraíba, mas por todo o Nordeste.