Nonato Guedes
No dia em que o governador João Azevêdo (Cidadania) compareceu à Assembleia e pediu apoio à “governabilidade”, o deputado Walber Virgolino protocolou, com mais onze assinaturas, pedido de impeachment do chefe do Executivo e da vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, acusando-os de envolvimento em denúncias constantes de investigações da Operação Calvário, que trata do desvio de verbas públicas da Saúde e Educação. O governador, confrontado com a iniciativa dos deputados, reagiu com naturalidade, salientando que “faz parte do processo democrático” e garantiu que está tranquilo e que não tem nada a temer, cabendo à Assembleia decidir ou não pelo acatamento do pedido.
Azevêdo e Lígia, na justificativa invocada pelo deputado Walber Virgolino, teriam supostamente praticado delitos funcionais como o da “prevaricação” diante de fortes denúncias formuladas contra agentes públicos que atuam no governo do Estado, relacionadas com o desvio de verbas mencionado nas investigações da “Calvário”. Em paralelo, a bancada oposicionista na Assembleia deu entrada a um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar as irregularidades detectadas na investigação do Gaeco e Ministério Público e atribuídas a uma “organização criminosa” remanescente do governo de Ricardo Coutinho (PSB).
A Assembleia retomou suas atividades, hoje, depois do período de recesso previsto no regimento interno e havia a expectativa de polêmica em cima dos desdobramentos da Operação Calvário, que tem tido repercussão na mídia nacional. O pedido de impeachment, porém, surpreendeu a alguns parlamentares e observadores políticos. A proposta de Comissão Parlamentar de Inquérito havia sido apresentada na legislatura passada e derrubada por falta de quórum mas a sua reapresentação demonstra a insistência de deputados oposicionistas em aprofundar pontos das investigações que ainda não teriam vindo ao conhecimento público. Depois do inferno astral vivido no ano passado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, o governador João Azevêdo inicia 2020 sob fogo cruzado, na avaliação de deputados do seu próprio círculo, preocupados com a extensão dos fatos que foram detonados hoje no Poder Legislativo. A vice-governadora Lígia Feliciano é mulher do deputado federal Damião Feliciano, presidente estadual do PDT, e também foi vice-governadora no segundo mandato de Ricardo Coutinho, concluído em dezembro de 2018.