Nonato Guedes
Em depoimento a UOL Notícias, a propósito dos 40 anos de fundação do Partido dos Trabalhadores, que serão completados na próxima segunda-feira, 10, o ex-ministro e ex-presidente da legenda Tarso Genro lembrou que propôs uma autocrítica aprofundada que possibilitaria a reestruturação do petismo, inovando, inclusive, no discurso. Tarso afirmou que não pretende participar da grande festa do partido que começa hoje no Rio de Janeiro, frisando que não se sente identificado, hoje, com o tipo de visão que o PT construiu de si mesmo. “Acho que o partido fez transformações democráticas muito positivas na sociedade brasileira, em particular no governo do presidente Lula. Mas também acho que ele teve que fazer uma série de modulações na sua linha política que bloquearam a sua renovação”, avalia.
E prosseguiu: “Ao longo destes 40 anos, ocorreram composições e renúncias que nunca ficaram esclarecidas. Não sei se algumas destas concessões não foram renúncias de princípios. A festa de aniversário é uma boa iniciativa e tenho certeza de que nem vão dar grande importância para a minha ausência”. Tarso Genro foi vereador, vice-prefeito, prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul e ministro. Presidiu nacionalmente o PT no papel de interino em 2005 quando o “mensalão” estava no auge. Ele acha que cumpriu um dos seus objetivos – o de fazer avançar o Processo de Eleições Diretas-PED, mas lamenta que não tenha sido possível a ideia de reformar as estruturas do partido. “Eu bati radicalmente com a maioria que controlava o partido e achava imprudente um processo de renovação/refundação”, acrescenta.
Segundo Tarso Genro, não foram ações individuais de qualquer dirigente que impediram a reestruturação. “Na verdade, era o pacto hegemônico do partido que, naquele momento, não pretendia se renovar. E na minha opinião, não se renovou até hoje”. Revela que a autocrítica que defendeu não significava transformar o partido em delegacia de polícia. “Quadros do PT cometeram erros ao longo destes 40 anos e isso não é nenhuma novidade em qualquer partido de qualquer ideologia. A reestruturação que eu defendia e defendo vai bem além. Nós temos um discurso e um programa ancorados na época em que o partido foi fundado e ainda agimos como se existisse uma classe trabalhadora nas fábricas que teria potencial hegemônico na sociedade. Operamos como se o nosso trabalho fosse organizar esta classe de pessoas para lutar por uma utopia. Isto mudou radicalmente”, salienta Tarso Genro.
O ex-ministro preconiza: “Não adianta, por exemplo, o PT prometer se renovar e pregar a reestruturação da CLT. Os processos de trabalho foram fragmentados e hoje temos autônomos, horistas, PJs, precários, intermitentes. Trata-se, neste caso, de organizar um outro sistema político protetivo que envolva estes excluídos das legislações trabalhistas, que irão aumentar. Acho que o partido não acompanhou essas mudanças. E a esta nova organização do trabalho soma-se a tensão social resultante de questões de gênero, cultura, preconceito racial e condição sexual. Precisamos absorver as suas demandas e oferecer propostas concretas. (….) Nós, da esquerda, precisamos determinar nossos compromissos e buscar convergências com outros campos políticos. Avaliarmos as condições das alianças e decidirmos unir ou não forças sociais, dependendo de cada situação concreta”, teoriza Tarso Genro.
Conforme ele, para compor uma frente de esquerda o PT precisa trabalhar com a possibilidade de não indicar o candidato em uma chapa na eleição presidencial. “Acho que se o PT não está preparado, tem que se preparar para isto. Eu defendo Lula ou Fernando Haddad como candidatos, mas nossa opinião tem que ser avalizada sinceramente por todas as forças convergentes. Não é pelo fato de o PT ter maior número de votos na esquerda, e ele tem de fato, que deve ter sempre as cabeças de chapas. O partido tem que conduzir o projeto de alianças pela questão programática e avaliar qual candidato tem mais chance de vencer a eleição. Não podemos ser hegemônicos pré-datados”.