Nonato Guedes
O Cidadania, partido no qual o governador da Paraíba, João Azevêdo, ingressou, após desligar-se do PSB, é sucedâneo do PPS, Partido Popular Socialista, por sua vez sucedâneo do histórico PCB. Presidido a nível nacional por Roberto Freire, com atuação a partir de Pernambuco, o Cidadania foi oficializado em março de 2019 e, inicialmente, seria batizado de “Movimento”, o que foi descartado por já ter sido assim registrado por Steve Bannon, ex-guru do presidente dos EUA, Donald Trump, para designar grupos de direita. A opção de Azevêdo pelo Cidadania na Paraíba teve a influencia do jornalista Nonato Bandeira, secretário de Comunicação do governador, que já foi ligado a Ricardo Coutinho, vice-prefeito de João Pessoa na primeira gestão de Luciano Cartaxo e dirigente estadual do PPS.
O Cidadania busca ser um contraponto à liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem faz sérias restrições, bem como ao estilo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tenta viabilizar a criação da sigla Aliança Democrática. Os filiados do Cidadania definem-se como militantes do “centro”, mas a agremiação abriga expoentes de esquerda e de direita. A filosofia é baseada na radicalidade democrática e na identificação com propostas liberais em termos econômicos. Preocupa-se, também, com a questão da inclusão social, mas rejeita fórmulas ortodoxas ideológicas. Quando João Azevêdo anunciou sua opção pelo Cidadania, surgiu nos meios políticos paraibanos a versão de que ele estaria tendencioso a deixar o campo democrático popular de esquerda para alinhar-se politicamente a movimento próximo do presidente Bolsonaro. Tal ideia, contudo, foi rechaçada por Azevêdo e por dirigentes partidários afinados com a liderança de Roberto Freire.
Numa entrevista que concedeu à mídia nacional, Roberto Freire assegurou que o Cidadania se mantém no campo de centro-esquerda, com possibilidade de diálogo franco e moderno com todas as forças políticas, entre socialistas e democratas, liberais e os chamados verdes. Freire lembrou que expoentes de destaque do Cidadania são originários do velho PCB, integrados agora a liberais progressistas. O presidente estadual do Cidadania é Ronaldo Guerra, da confiança de Azevêdo e que está incumbido de estruturar a legenda em todo o Estado, viabilizando a sua participação já nas eleições municipais deste ano. Prefeitos que estavam filiados ao PSB, como Fábio Tyrone, de Sousa, desligaram-se da legenda socialista e sinalizaram adesão ao Cidadania. O partido deverá acolher, também, deputados estaduais que hoje militam em outras agremiações.
Roberto Freire critica a falta de modernização de pensamento e bandeiras defendidas por algumas forças políticas de esquerda. “Você vê, por exemplo, os partidos tradicionais da esquerda incapazes de entender essa sociedade das redes, da robotização, da inteligência artificial. Um exemplo é defender a estatização do sistema financeiro, dos bancos. Como, se hoje essas instituições estão na nuvem, não têm estrutura física, nem regulação de algum banco central? (…) Eles estão prisioneiros de realidades que estão deixando de existir, pela emergência dessa nova sociedade, das relações sociais, novas relações de trabalho, nova forma de produzir riqueza”. Freire disse ainda que as forças políticas precisam confirmar os valores de solidariedade, da busca da igualdade, da justiça, da liberdade, “valores que sempre estiveram presentes no pensamento progressista e de esquerda”. E arremata: “É isso o que o Cidadania pretende fazer nesse novo mundo. A sustentabilidade é muito importante”.
No que diz respeito ao governo do presidente Jair Bolsonaro, o governador João Azevêdo permanece alinhado a governadores do Nordeste, de diferentes legendas, que têm se insurgido contra o Planalto e lutam pelo repasse de recursos que, por direito constitucional, pertencem a esta região. Foram esses governadores da safra 2018 que viabilizaram a criação do “Consórcio Nordeste”, um empreendimento que busca atrair investidores do exterior, de forma autônoma, sem a interferência ou dependência do governo federal em Brasília. Esses gestores foram chamados, pejorativamente, de “governadores de paraíba” pelo presidente Jair Bolsonaro, durante um desabafo em cerimônia pública. João Azevêdo já deixou claro que não fecha canais de interlocução com Brasília, mas não admite ser tutelado por Bolsonaro.