A direção estadual do Partido dos Trabalhadores na Paraíba, presidida por Jackson Macêdo, atendeu a um pedido da presidente nacional da legenda, deputada Gleisi Hoffmann (PR) e adiou, indefinidamente, a reunião que havia convocado para hoje com vistas a definir uma posição diante do governo de João Azevêdo, que após o seu desligamento do PSB ingressou no “Cidadania”, partido com que o PT nacional não tem maiores afinidades. Em áudio enviado ao dirigente paraibano, a presidente nacional defende o ex-governador Ricardo Coutinho, que controla o Partido Socialista Brasileiro no Estado e diz que a presença do PT no governo de João Azevêdo não pode depender apenas de cargos.
Fontes políticas interpretaram a manifestação da ex-senadora e pessoa de confiança absoluta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como sintomática de um iminente rompimento que o PT estadual venha a formalizar com o governador João Azevêdo. Petistas como o ex-deputado federal Luiz Couto ocupam secretaria estratégica na atual administração, mas a questão do apoio à gestão de Azevêdo divide profundamente a agremiação. A causa está nos laços que o petismo voltou a cultivar com o ex-governador Ricardo Coutinho, mesmo com denúncias de envolvimento seu em irregularidades investigadas pela Operação Calvário, que trata do desvio de verbas públicas da Saúde e Educação.
Coutinho, que já foi filiado ao PT, onde iniciou trajetória política mas se desligou em meio a ameaças de expulsão por suposta infidelidade partidária, quando tentou apoio da legenda para ser candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2004, conseguiu se reaproximar do Partido dos Trabalhadores ainda quando esteve à frente do governo do Estado. Ele tomou posição aberta contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e trouxe a ex-mandatária a João Pessoa para uma audiência pública em que sustentou a narrativa do “golpe”. No episódio da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Polícia Federal em Curitiba, Ricardo visitou Lula e deu declarações qualificando de arbitrária a medida.
Antes da prisão, o socialista paraibano havia trazido Lula e Dilma Rousseff para um “tour” por cidades do cariri em visita a obras do projeto de transposição do rio São Francisco, então adiantadas, com a chegada das águas em reservatórios de municípios daquela região. Tais gestos sensibilizaram o ex-presidente Lula, que recomenda, sempre, atenção especial a Coutinho e que os retribuiu protestando, no Rio de Janeiro, em ato público, contra a prisão do ex-governador paraibano por um dia. Na justificativa do pedido ao PT paraibano para cancelamento da reunião, Gleisi Hoffmann ponderou ainda que o momento é complexo e precisa ser avaliado com o maior cuidado, pesando as relações históricas recentes com o PSB local e o futuro da legenda.