No festival que celebrou os 40 anos do Partido dos Trabalhadores no Rio de Janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou, ontem, os pedidos de autocrítica feitos à legenda e os empregos em aplicativos, geralmente chamados de “uberização” do trabalho. “A moda é pedir para o PT fazer autocrítica. A pessoa pergunta para mim: Lula, você não tem autocrítica? É o seguinte: a pessoa que quer que eu faça autocrítica é porque não tem crítica a fazer a mim. Ele que faça a crítica a mim! Eu nunca vi ninguém perguntar à direita desse país, que governa há 500 anos, se eles vão fazer autocrítica alguma vez na vida”.
O mesmo discurso foi adotado pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. “Por que não pedem autocrítica para quem deu o golpe, tirou a Dilma, prendeu o Lula e elegeu o Jair Bolsonaro? Nós não temos medo de reconhecer os nossos erros, mas não podemos admitir esse tipo de imputação. Nós fizemos muito pelo Brasil nesses últimos 13 anos e temos que nos orgulhar disso”, defendeu. As declarações de Lula e Gleisi vão contra manifestações recentes de nomes importantes do PT, como Aloizio Mercadante e Tarso Genro, que esta semana defenderam a necessidade de a legenda reconhecer seus erros para poder corrigi-los.
A fala de Lula aconteceu durante o Festival PT 40 anos, quelotou a Fundição Progresso, no centro do Rio, com 5.500 pessoas. Lula e José Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, fizeram o evento mais esperado da programação na noite de ontem. Lula alternou momentos em que se mostrou antenado com as mudanças sociais pelas quais o país passa com outros em que retomou discursos anteriores, descrevendo o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como golpe. “Certamente o PT cometeu muitos erros, mas o maior dos “crimes” foi permitir que o pobre pudesse subir um degrau na escala social”, afirmou. Quando falou sobre as mudanças sociais, especialmente no mercado de trabalho, apontou para questões sobre as quais, segundo ele, o PT precisa dar respostas, como a dos trabalhadores de aplicativos de transporte e entrega (Uber, Rappietc).
Lula questionou as novas relações de trabalho, especialmente as mediadas pela tecnologia, e disse que um universitário hoje tem menos tranquilidade sobre a expectativa de conseguir um emprego do que Lula tinha quando tirou o diploma de torneiro mecânico. “A verdade é que estas pessoas estão regredindo nas conquistas que imaginavam ter. Trabalho por aplicativo (…) é o ser humano sendo trtado da forma mais canalha possível, em nome de uma palavra chamada empreendedorismo individual ou flexibilização. O nome é sofisticado, importante, porque as pessoas têm orgulho de dizer. Você não vai ter mais emprego e vai ser chamado de microempreendedor”, frisou. Sabendo da necessidade de o PT encontrar novos quadros, especialmente entre os jovens, o ex-presidente fez um discurso voltado para esse público e brincou que tem o tesão de uma pessoa de 20 anos. “Eu resisto ao envelhecimento da alma, da minha consciência”, disse Lula, que tem 74 anos.
Lula não perdeu a oportunidade de alfinetar o ex-juiz Sérgio Moro, a quem chamou de ladrão, e a emissora Globo, alvo constante, também, de Bolsonaro. “O que a Globo está preparando? Um caldeirão do Huck”?,ironizou, sobre uma possível candidatura do apresentador Luciano Huck à presidência. “Se tem ladrão nesse país foram as pessoas que me condenaram”, disse Lula, ovacionado pelos militantes do PT.