Nonato Guedes
Fundado a nível nacional no dia 10 de fevereiro de 1980 e, na Paraíba, em agosto do mesmo ano, o Partido dos Trabalhadores já em 1982 lançou candidato ao governo do Estado – o advogado Derly Pereira, tendo como vice José Olímpio. A chapa foi partidária, sem qualquer coligação, num pleito marcado por casuísmos como a vinculação geral de votos e obteve apenas 3.918 votos, ou seja, 0,45%. O candidato vitorioso foi o então deputado federal Wilson Braga, concorrendo pelo PDS, tendo como vice o empresário José Carlos da Silva Júnior. A chapa alcançou 509.855 votos, contra 358.146 atribuídos ao principal candidato da oposição – Antônio Mariz, que disputou pelo PMDB, tendo como vice o ex-deputado Mário Silveira, que havia sido cassado pelo regime militar. Mariz era oriundo da ex-Arena, partido criado para dar sustentação ao regime militar, mas assumiu posições dissidentes na legenda e, a nível estadual, desafiou em convenção indireta, em 1978, o candidato imposto pelo Planalto ao governo, Tarcísio Burity, que acabou sendo homologado pelos delegados oficiais.
O PT na Paraíba foi fundado por representantes de movimentos sindicais, organismos de base da Igreja Católica e agrupamentos de esquerda, inclusive, agrupamentos clandestinos. De forma mais orgânica, conforme Paulo Giovani Antonino Nunes no livro: “O Partido dos Trabalhadores e a política na Paraíba: construção e trajetória do partido no Estado”, estiveram presentes na criação do PT as seguintes organizações: Partido Comunista Revolucionário (PCR), Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP), oriundas de rachas do PCB durante o período da luta armada no Brasil, além de agrupamentos trotskistas como a Convergência Socialista. Tais organizações – sustenta o autor – tiveram papel importante na construção do PT no Estado e praticamente monopolizaram a direção partidária no início da formação do partido, o que não quer dizer que eram agrupamentos grandes ou com muita inserção nos movimentos sociais.
Entre as organizações de esquerda o PCR era hegemônico no PT paraibano na fase inicial, pela sua penetração em pastorais da Igreja, através do trabalho de Wanderly Farias, no movimento estudantil através da atuação de Sônia Germano e no PMDB Jovem através de Anísio Maia. Divergências entre as duas principais lideranças da organização, Wanderly e Anísio, e afastamento de suas bases sociais, terminaram por enfraquecer sua hegemonia no PT. Eliezer Gomes, que era um dos coordenadores da Pastoral da Juventude, foi o primeiro presidente do Partido dos Trabalhadores na Paraíba. A fundação oficial no Estado deu-se no dia 10 de agosto de 1980 com a presença de Lula, que foi, também, a outras cidades, no interior. No dia 13 de setembro, o PT/PB pediu registro provisório, após conseguir preencher todos os requisitos exigidos pela lei de reorganização partidária. Logo após sua fundação oficial, eclodiram inúmeros problemas. Essa fase foi pontuada por constantes conflitos internos que levaram à saída de um grupo de militantes em março de 1981, bem como à expulsão de filiados que não teriam se adequado às concepções éticas do partido. Houve, também, o fracasso nas eleições estaduais e municipais de 1982.
A defecção do grupo de militantes sob a liderança de Wanderly Farias repercutiu nacionalmente. Em nota oficial distribuída à imprensa em São Paulo, o secretário nacional do PT, Jacó Bittar se posicionou a respeito, informando que a direção nacional havia detectado “a ação nefasta de filiados que em algumas partes do país procuravam sabotar a organização e expansão do partido”. De acordo com a nota, “algumas dessas pessoas haviam ingressado no PT com o oculto propósito de dificultar a viabilização legal” e outros haviam sido atraídos “pela suposição de que no PT poderiam dar curso às suas ambições pessoais, em detrimento de interesses coletivos”. A direção nacional do PT afirmou, ainda, que incidentes como os da Paraíba e outros não impediriam a organização nacional do Partido dos Trabalhadores e a conquista do seu registro definitivo no Tribunal Superior Eleitoral.
Nos dias 21 e 22 de março de 1981 o PT paraibano realizou seu I Encontro Estadual, que reuniu militantes de 15 cidades do Estado. Na ocasião, foi eleito o diretório do partido e foram marcadas as convenções municipais. Eliezer Gomes, eleito presidente, derrotando o professor José Alves, apoiado por correntes trotskistas, era trabalhador do almoxarifado de uma empresa metalúrgica e fazia parte da direção do Sindicato dos Metalúrgicos, mas o sindicato como um todo não estava no campo do novo sindicalismo nem apoiava o PT. Eliezer era, também, membro da Pastoral da Juventude do Meio Popular e próximo do PRC. No dia 06 de setembro de 1981, o PT/PB oficializou sua primeira direção executiva, que ficou composta da seguinte forma: Eliezer Gomes, presidente; José Alves, primeiro vice-presidente, Francisco Nóbrega Gadelha segundo vice-presidente, Laércio Losano, secretário geral e Wagner Batista, tesoureiro. Praticamente, toda a executiva era ligada a organizações da esquerda clandestina, revela Paulo Giovani Antonino Nunes.