“Indústria americana” ganhou o Oscar de Melhor Documentário na cerimônia de ontem à noite em Los Angeles (EUA). “Democracia em vertigem”, da diretora brasileira Petra Costa,um dos indicados na categoria, mas tido como azarão, acabou derrotado. Na visão pessoal da diretora Petra Costa, uma mineira de 36 anos, o filme narra o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a crise política no Brasil. O enredo é claramente engajado, com o roteiro encampando a narrativa do “golpe” que Dilma e o PT sustentam ao se referir ao processo de impeachment ocorrido em 2016, decretado pelo Congresso Nacional sob a supervisão do Supremo Tribunal Federal. Produzido pelo casal Obama (o ex-presidente Barack e a mulher Michelle), “Indústria americana” mostra os contrastes entre a cultura americana e chinesa durante a abertura de uma fábrica em Ohio, Estados Unidos.
O casal americano Steven Bognar e Julia Reichert, já indicado ao Oscar, era o favorito na categoria. No agradecimento, Reichert citou a frase “Trabalhadores do mundo, uni-vos”, um dos trechos mais famosos do Manifesto comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, em 1848. Petra Costa já havia chamado a atenção com filmes premiados: “Elena”, de 2012, e “Olmo e a gaivota”, de 2014. Oficialmente, o Brasil nunca ganhou o Oscar. O país já foi quatro vezes indicado ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira (“Central do Brasil”, “O pagador de promessas”, “O quatrilho”, “O que é isso, companheiro?”) e uma vez a melhor animação – “O menino e o mundo”.
A diretora do documentário “Democracia em Vertigem”chegou na noite de ontem à cerimônia do Oscar em Los Angeles (EUA), onde concorreu na categoria de melhor documentário, usando um vestido vermelho. Em entrevista ao canal TNT, Petra falou sobre as diferenças e ressaltou que “a cura do Brasil depende do voto de cada um”. Textualmente, pontuou: “Eu acredito que isso não é da alma brasileira, a gente consegue lidar com as diferenças, mas o ódio não faz parte da nossa natureza. Não aguento mais gente falando que política é tudo igual. Esse é o segredo para continuarmos perpetuando desigualdades. O voto de cada um importa. A gente tem que barrar esse avanço do fundamentalismo”. O filme, para ela, “é uma carta de amor ao Brasil, ao país que eu sonhava que ia viver. Eu cresci acreditando que a democracia era uma coisa certa. É muito triste perceber o que estava brotando nas ruas em alguns momentos e se alastrando”.
Em “Democracia em Vertigem”, Petra Costa faz um retrato pessoal do processo que tirou Dilma Rousseff da presidência do Brasil, a partir de um ponto de vista pessoal, misturando sua história familiar com a trajetória política do país. A história começa a ser contada a partir do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003 e segue analisando a posterior crise política no Brasil. Petra deu declarações dizendo que não esperava a indicação ao Oscar e comemorou a surpresa. “A categoria de documentários está representando o feminino de uma forma impressionante e também representando o cinema estrangeiro. Isso reflete um passo muito importante que a Academia tem dado para incluir mais membros estrangeiros e mais mulheres entre os votantes”, disse. Em sua chegada ao Teatro Dolby, onde é realizada a cerimônia do Oscar, Petra Costa também protestou contra a morte da vereadora do PSOL-RJ Marielle Franco, há dois anos. Ao seu lado, a líder indígena Sonia Guajajara protestou contra o desmatamento ilegal na Amazônia. O melhor filme do Oscar 2020 foi “Parasita”, do diretor coreano BongJoo Ho. “Parasita” terminou a noite com quatro estatuetas e oi o maior premiado da cerimônia. É uma comédia dramática em tom satírico sobre uma família sul-coreana à beira da miséria que se infiltra em uma família rica. “Parasita” foi bastante elogiado pela crítica especializada desde as primeiras exibições em festivais.