Nonato Guedes
Hoje,o Partido dos Trabalhadores completa 40 anos de fundação e, aproveitando a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez-se festejo no Rio com palavras de ordem contra Bolsonaro, Rede Globo e o ex-juiz Sérgio Moro, que condenou o “pajé” petista à prisão. No discurso para a claque organizada, Lula deixou claro que não aceita cobrança ao partido para uma autocrítica diante de escândalos como o do mensalão e do petrolão. Nenhuma surpresa. Lula sempre pôs o partido na defensiva quando confrontado com o envolvimento em falcatruas, pouco se importando com a repercussão negativa junto à opinião pública.
A arrogância de Lula não esconde, porém, o choque de realidade a que o partido criado no colégio Sion, em São Paulo, na década de 80, é submetido, ou seja, o encolhimento de tamanho, com a redução drástica, por exemplo, no número de prefeituras que comanda no país. Um levantamento publicado pela revista “Veja” diz tudo na tradução dos números. De 638 prefeituras sob seu controle nas eleições municipais de 2012, o petismo despencou para 256 no ano de 2016, a última eleição de que participou nas chamadas células de base da Federação brasileira. Em 2000, o PT abiscoitou 187 edilidades, 411 em 2004, 557 em 2008 e 638 em 2012. Caiu, então, para 256 – e o “pajé” Lula ainda acha que não é necessária a autocrítica. Os petistas brigam com os fatos, eis a verdade nua e crua.
A expectativa nas próprias bases petistas era de crescimento em todos os níveis, mas para a própria presidência da República, em 2018, com Fernando Haddad, o PT não vitoriou, perdendo a parada para Jair Bolsonaro, um auto-denominado outsider da política, a despeito dos mandatos acumulados como deputado pelo Rio e que lhe valeram uma atuação opaca no cenário nacional. O ciclo no Planalto parou no impeachment de Dilma Rousseff quando esta pedalava o segundo mandato. Um reflexo do desmonte da sigla, inclusive, no Nordeste, onde o “pajé” tem raízes cristalizadas, está no fato de que no pleito de 2018 o PT paraibano não elegeu nenhum deputado estadual. O ex-deputado Anísio Maia, do núcleo fundador da seção petista local, ficou numa suplência, estando hoje a depender de equação política de outras forças que permita a sua ascensão, por gravidade, ao mandato titular.
Na Câmara Federal, a vaga que era ocupada por Luiz Couto passou a ser do frei Anastácio Ribeiro, o que quer dizer que não houve evolução. Couto disputou cadeira ao Senado confiante no desgaste de adversários e no reforço logístico do então governador Ricardo Coutinho (PSB), que estava obcecado em contribuir para derrotar Cássio Cunha Lima, do PSDB, que postulava a reeleição. O filho de Ronaldo Cunha Lima foi, sem dúvida, derrotado, mas Couto, a despeito da votação expressiva conquistada em parte devido a anabolizantes eleitorais, não somou o suficiente para “chegar lá”. As duas vagas em jogo, só lembrando, ficaram, respectivamente, com Veneziano Vital do Rêgo (PSB), originário do ex-PMDB, hoje MDB, e Daniella Ribeiro, musa do PP, que fez dobradinha com Cássio. Couto foi contemplado com uma secretaria no governo de João Azevêdo, mas está instável no posto diante da pressão de petistas locais, com o aval da cúpula nacional, para o rompimento com o candidato que Ricardo Coutinho apoiou à sua sucessão em 2018, rompendo com ele no nascedouro do governo.
Aliás, o PT paraibano vive uma situação singularíssima na presente conjuntura: pelo menos a cúpula, que decide, para o bem ou para o mal, é praticamente teleguiada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, citado na Operação Calvário (que trata de desvio de verbas da Saúde e Educação no Estado) e que no início dos anos 2000 foi praticamente expulso pelo PT sob alegação de indisciplina. Na época, Coutinho planejava ser o candidato da legenda a prefeito de João Pessoa e exibia pesquisas que o apontavam como favorito. O PT, porém, desdenhou desse favoritismo e ainda mostrou os dentes para o filiado, que deu o troco refugiando-se no PSB, onde triunfou duas vezes – incluída, aí, a campanha pela reeleição em 2008.
“Veja” definiu bem, em reportagem de capa, o cenário a dados de hoje: o ex-presidente Lula é, de fato, o nome mais forte da oposição, nas pesquisas. A questão é que ele está impedido de concorrer nas eleições em razão da Lei da Ficha Limpa, após ser condenado duas vezes em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá e no do sítio de Atibaia. Para voltar ao jogo, o “pajé” depende de uma improvável pirueta jurídica do Supremo Tribunal Federal. Além disso, mesmo que concorra, Lula sofre um profundo desgaste de sua imagem. Um nome diferente, especula “Veja”, poderia se beneficiar da força de Lula sem ser abalado por seus defeitos. Mas nem Lula nem o PT estão preparados para um movimento nessa direção. O ex-metalúrgico sempre impediu o crescimento de outras lideranças que fossem capazes de rivalizar com ele. E não parece interessado em abrir mão do cetro da esquerda. Daí….