Nonato Guedes
Os aliados políticos do governador João Azevêdo (Cidadania) inquietam-se quanto ao nome que o esquema deverá ungir para disputar as eleições de prefeito de João Pessoa em outubro, pela circunstância de que não há, a dados de hoje, cogitação de pretendente forte ou competitivo com condições de dar a vitória no primeiro teste eleitoral que o chefe do Executivo enfrentará no exercício do poder. Azevêdo tem uma dificuldade adicional ocasionada pelo fato de que ainda está se familiarizando com o comando de um partido que passou a empalmar depois da sua desfiliação do PSB, motivada por divergências irremovíveis com o antecessor e ex-cabo eleitoral da campanha de 2018 Ricardo Coutinho. No PSB, ele não nutria preocupações porque Ricardo cuidava de tudo, dentro do estilo centralizador que é característico dele. No Cidadania, embora tenha emissários de confiança como Ronaldo Guerra, presidente estadual, o governador tem que dar as “coordenadas” para imprimir sua digital na sigla em fase de estruturação.
Aliás, é com os passos de Ricardo que Azevêdo se preocupa mais, diante do espírito de revanche que o acomete e o motiva na estratégia que concebe para derrotar o governo do Estado num centro estratégico que é considerado o “tambor” em termos de opinião pública, embora Ricardo não tenha grandes fichas para o jogo. Coutinho, em tese, não deverá ser candidato devido à insegurança quanto ao seu envolvimento nas denúncias condensadas pela Operação Calvário. Dentro do PSB não parece haver nome capaz de substituí-lo – desse ponto de vista, o ex-governador está na mesma posição que o ex-presidente Lula da Silva ostenta no PT. Mas RC idealiza fazer um estrago monumental aliando-se a quem menos se imagina para tentar infligir derrota dupla – ao esquema de Azevêdo e ao esquema do atual prefeito, Luciano Cartaxo (PV), que tenta se perpetuar no poder pessoense através de um “alter-ego” confiável, cujo rosto também não foi desenhado ainda. Tarefa árdua, claro, o que não quer dizer que não será tentada.
Em princípio, o ex-governador investe na atração do Partido dos Trabalhadores, que tem uma banda atrelada a João Azevêdo, mas que por recomendação expressa de Gleisi Hoffmann, presidente nacional e alto-falante de Lula, deve se compor com Ricardo, preferencialmente, em retribuição ao espaço que este deu, como governador, a Lula e a Dilma, quando estavam decaídos do poder. O problema é que o PT não tem nomes competitivos – na única vez em que ascendeu à prefeitura da Capital ficou desfalcado do vitorioso, Luciano Cartaxo, em pouco tempo, já que ele migrou para o PSD e, depois para o PV. O PSB está “bichado” em relação aos nomes de que pode lançar mão – como os de Ricardo, do deputado federal Gervásio Filho e das deputadas estaduais Estelizabel Bezerra e Cida Ramos, e o PT não se renovou à altura de apresentar, na largada, um nome que atemorize os adversários. Claramente um fator de impasse para a montagem de qualquer estratégia destinada a derrotar João Azevêdo e Luciano Cartaxo. Mas, mesmo quem está perdido tem a opção legítima de persistir e até confiar em reviravoltas.
Não há milagres em política, há “fenômenos”, que brotam de onde menos se espera, geralmente alimentados por conjunturas indefinidas em que o eleitor recorre ao chamado voto de protesto para despejar, por meio dele, sua insatisfação com o quadro que “está aí” e sua decepção com líderes que já foram incensados e acabaram por não corresponder a expectativas mais fundas localizadas no inconsciente coletivo. Esse tal voto de protesto é uma espécie de campainha acionada em momentos críticos para advertir os que se julgam eternos líderes de que alguma coisa está fora da ordem e, portanto, tais líderes não esperem mais contar com a lealdade incondicional, irrestrita, dessa fração do eleitorado. Se aplicado ao contexto o chamado efeito multiplicador, os reflexos do voto de protesto tendem a ser devastadores para partidos e para líderes que se arvoram em candidatos iludindo-se com a fantasia de que ainda dão as cartas, sem perceber que estão sendo mandados para casa pelo exigente eleitorado.
A perspectiva de perigo quanto a sonhos acalentados ou a projetos de poder que são defendidos com ardor cívico por pseudos-líderes políticos é o grande complicador das eleições municipais à vista, porque traz embutida uma zona de sombra, talvez indefinível no curto prazo do corpo a corpo com o eleitorado e que é ameaçadora para a zona de conforto em que tais líderes se julgam acolchoados no cenário presente. Não é fácil desvendar, preventivamente, sinais que estão se formando no imaginário eleitoral – e este é o grande complicador que submete chefes políticos e pretendentes a um verdadeiro suplício, pelo receio de pagar caro pela reação popular, perdendo privilégios e cargos que dão status e poder de mando na conjuntura contemporânea. De há muito, vale repetir, o eleitor aprendeu que põe e dispõe, ou depõe, quando quiser. É aí onde mora o perigo já pressentido…