Nonato Guedes
O ex-governador da Paraíba, Ricardo Vieira Coutinho, aparentemente mantém-se prestigiado junto à cúpula nacional do Partido Socialista Brasileiro, apesar do cerrado bombardeio na mídia associando-o supostamente a envolvimento com escândalos de desvio de verbas da Saúde e Educação, investigados pela Operação Calvário, do Ministério Público. Ainda no começo desta semana, ele participou de reunião da Fundação João Mangabeira, instituto de estudos políticos do PSB nacional, na condição de presidente do organismo. A reunião, em Brasília, contou com a presença do presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira (PE) e serviu de pretexto para empossar membros do Conselho Curador da Fundação.
Ricardo foi notícia, com fotografia, no site nacional do Partido Socialista, havendo o registro de que ele apresentou, na oportunidade, o que seria o carro-chefe da campanha dos candidatos da sigla a prefeitos nas eleições deste ano em Capitais e outras cidades do país. Trata-se de um projeto denominado “É Socialista” e, segundo a notícia, foram prospectadas as políticas públicas de destaque executadas por prefeitos socialistas, muitos dos quais concorrerão à reeleição em localidades estratégicas. Haverá uma plataforma para os candidatos do PSB ao pleito deste ano, com subsídios acerca das experiências exitosas e de outras que serão desencadeadas para oxigenar o chamado ideal socialista.
Na Paraíba já são visíveis sinais de desgaste da imagem de Ricardo, que governou o Estado por duas vezes consecutivas e foi prefeito de João Pessoa, eleito, também, duas vezes, além de ter sido deputado estadual e vereador. Adversários de Ricardo, sempre que possível, apontam-no como responsável por uma Era de descalabro administrativo, pontuada, também, por desvios de conduta moral, refletidos no pagamento de propinas ao que o Ministério Público denominou de organização criminosa que atuava em conluio com entidades sociais, a exemplo da Cruz Vermelha Brasileira, para a gestão pactuada de segmentos como o da Saúde. Essa organização, ainda conforme o MP, congregou operadores da Cruz Vermelha e ex-secretários de Ricardo, cujas prisões chegaram a ser decretadas pela Justiça. Ele próprio ficou preso uma noite, quando retornava de périplo pelo exterior e chegou a ser mencionado pela Interpol na lista de procurados. Foi posto em liberdade após passar por audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Estado.
Coutinho tem mantido um silêncio sepulcral em meio ao bombardeio disparado contra ele e contra ex-aliados de sua confiança. Certamente ficou desapontado com as delações de figuras que em seus governos tinham influência de primeiro-ministro ou de eminência parda, a exemplo da secretária Livânia Farias, a quem foram entregues as chaves do cofre do Estado e que aparece, também, como receptora de propinas pagas a expoentes da organização criminosa. Livânia, praticamente, foi quem mais colaborou com a Justiça no sentido de esquadrinhar os contornos da tal “Orcrim”, que, de acordo com os autos de inquéritos, era estratificada de forma hierárquica, com departamentos específicos para o pleno escoamento de atividades criminosas contra o erário. Nos primeiros momentos, o ex-governador ainda postou, em redes sociais, mensagens desqualificando indiretamente as investigações e o teor de acusações e exprimindo confiança quanto à vitória do contraponto às acusações formuladas. Dados esses recados, sumiu da exposição.
Enquanto isso, socialistas paraibanos, ainda que não o confessem, vivem situação de desconforto e instabilidade com a indefinição sobre os rumos do partido, inclusive, quanto à escolha de nomes de candidatos e anúncio de estratégias para as eleições que vão ser travadas em outubro. A seção paraibana perdeu quadros valiosos, mantém outros, inclusive, deputados no exercício do mandato, que aguardam “janela legal” para bater em retirada, migrando para outras agremiações. A cúpula nacional parece indiferente a esse desmonte e também optou por silenciar sobre a conjuntura paraibana. Até quando vai perdurar essa tática, ninguém sabe, ninguém ousa especular.
Quanto a Ricardo, teoricamente está fora do páreo pela prefeitura de João Pessoa, a vitrine cobiçada por todas as agremiações. Desde que deixou o governo em 31 de dezembro de 2017, cumprindo mandato até o final e descartando a perspectiva de sair candidato a uma vaga ao Senado, como era cogitado, Coutinho passou a ser referenciado como nome natural (e até favorito) para concorrer à prefeitura hoje ocupada por Luciano Cartaxo, do PV. Mas essa hipótese foi perdendo força à medida que as denúncias apuradas pela Operação Calvário passaram a citar seu nome, em alguns casos, ostensivamente. O PSB paraibano está de mãos atadas, pela incerteza do que pode suceder-se com seu líder maior em pleno curso da disputa eleitoral. A pergunta que se faz nos meios políticos locais é até quando a direção nacional do partido vai fingir que reina absoluta normalidade em seus quadros na Paraíba.