Nonato Guedes
A transferência de votos no Brasil já foi catalogada como mito por estudiosos como Alberto Carlos Oliveira, autor do bestseller “A cabeça do brasileiro” e de “A cabeça do eleitor”. Ele chegou a dizer que a maior prova de inexistência da transferência de votos ocorreu na eleição presidencial de 1989, quando Leonel Brizola apoiou Luiz Inácio Lula da Silva. Naquela ocasião, a grande massa dos eleitores que votou em Brizola no primeiro turno, principalmente no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, votou em Lula no segundo turno. Mas, para Alberto Carlos Oliveira, não houve mágica e o que Brizola fez foi simples. Ele já sabia que os seus eleitores votariam em Lula de qualquer maneira. Assim, antes que isso ocorresse, se antecipou e declarou apoio ao candidato do PT. No final, Brizola posou de grande líder, embora não fosse bem assim.
Há controvérsias a respeito. Em 2010, por exemplo, Lula da Silva – o “pajé” do petismo que ontem foi abençoado pelo papa Francisco no Vaticano – elegeu Dilma Vana Rousseff, uma ilustre desconhecida, como sua sucessora após dois mandatos. Lula cuidou de massificar com antecedência a figura de Dilma, cujo sobrenome parecia difícil de pronunciar para muitos eleitores, especialmente do Nordeste, mas que foi apresentada ao distinto público como “mãe do PAC”, o Programa de Aceleração do Crescimento, espécie de carro-chefe das gestões lulistas, sobretudo para efeito de propaganda. Na dúvida, eleitores do “pajé” simplificaram a coisa e passaram a se referir a Dilma como “a mulher do Lula”. A sra. Rousseff foi reeleita em 2014, embora não tenha concluído o mandato, devido ao processo de impeachment articulado pelo Congresso e que os petistas chamam ainda hoje de “golpe”.
Pois bem! Nas eleições deste ano, quem vai testar seu potencial de transferência de votos em João Pessoa é o prefeito Luciano Cartaxo, do PV, que vive o seu segundo mandato consecutivo e afirma estar realizando uma administração bem aprovada pela população. Claro que outros líderes políticos também testarão, direta ou indiretamente, seu poder de fogo na transferência de votos, como o governador João Azevêdo, que também faz sua estreia à frente do “Cidadania”, partido a que se filiou recentemente depois de ter militado no PSB, e o ex-governador Ricardo Coutinho, dono do PSB no Estado e prefeito da Capital por duas vezes. Mas quem está na vitrine é o prefeito Luciano Cartaxo. A eleição pode abarcar fatores nacionais e estaduais, mas, essencialmente, se fará contra ou a favor da Era Cartaxo. Ou seja, o eleitor vai plebiscitar nas urnas o projeto de poder empalmado pelo ex-petista, natural da cidade de Sousa e que logrou ser catapultado à prefeitura da Capital da Paraíba em duas oportunidades sem deter maior tradição política em termos de liderança. Cartaxo foi candidato a vice-governador na chapa de Maranhão em 2006 mas só veio a ser investido em 2009 com a cassação de Cássio Cunha Lima, não tendo tido espaço para mostrar dotes executivos.
Como prefeito de João Pessoa, Luciano não tem empreendido, propriamente, um modelo revolucionário de gestão, mas tem dado contribuições pontuais para alavancar o crescimento da Capital paraibana, investindo não somente em obras de infraestrutura mas em construção de creches, ampliação de escolas, unidades de saúde e em praças que oferecem opções de lazer e entretenimento aos habitantes da Felipéia de Nossa Senhora das Neves. Há falhas, sim, inclusive, em setores essenciais, indicando demora do poder público gerido por Luciano para responder às carências ou demandas indispensáveis ou imperiosas. São falhas que não desqualificam o conjunto do modelo de gestão empalmado por Cartaxo e sua equipe.
Até que ponto isto vai repercutir na alma do eleitorado, sensibilizando-o a votar na “continuidade”, como tem sido apregoado por Cartaxo em momentos recorrentes de auto-elogio, são outros quinhentos. Até porque o prefeito, deixando trair um certo excesso de confiança, tem se dado ao luxo de protelar a especulação de nomes de sua preferência ou identificados com o projeto em curso que podem encabeçar uma chapa competitiva para o pleito de outubro. Sabe-se apenas que o nome escolhido sairá das hostes da administração e, preferencialmente, filiado ao Partido Verde, que o prefeito comanda, sobretudo, em João Pessoa, já que a legenda não se interiorizou com força por outros colégios eleitorais influentes do mapa paraibano. Qual será a carta na manga que Cartaxo está escondendo dos adversários, da imprensa e da própria opinião pública? Quem tem o perfil do “continuador” bafejado por votos que emergirá triunfante das urnas de outubro? Ninguém sabe, ninguém viu. Ainda!
O prefeito repete um mantra que parece talhado para seu perfil: “quem tem prazo não tem pressa”. É verdade. O calendário para realização de convenções e lançamento oficial de candidaturas ainda vai se espichar por algum tempo e haverá espaço para fechar articulações em conversas de pé de orelha com outros líderes políticos capazes de reforçar o “projeto”. Quanto ao nome que sairá da cartola…bem, isto precisará ser combinado com o eleitorado. Que, como se sabe, dá a resposta definitiva no Dia “D”, o dia da eleição. A conferir!