Nonato Guedes
Embora o governador João Azevêdo (Cidadania) insista em afirmar que mantém contatos constantes com deputados estaduais, interlocutores políticos do próprio chefe do Executivo avaliam que ainda não foi feita a devida “amarração” de apoios que possam garantir tranquilidade ao Palácio da Redenção no plenário da Assembleia Legislativa. Revelam que a aprovação, por 19 votos, do projeto de lei criando a Fundação PBSaúde, encarregada de gerenciar hospitais que compõem a rede pública do Estado, foi um resultado que “bateu na trave” e acendeu o alerta para o governo quanto à fragilidade da chamada base de sustentação.
A aprovação somente foi possível graças ao reforço de deputados do Partido Progressista, que tem como expoentes na Paraíba o dirigente Enivaldo Ribeiro e os filhos Aguinaldo (deputado federal) e Daniella (senadora). Um exemplo foi a postura da doutora deputada Jane Panta, do PP de Santa Rita, que um dia antes fizera críticas ao governo João Azevêdo por ter supostamente “abandonado” a cidade da região metropolitana de João Pessoa, mas votou a favor da PBSaúde a pretexto de que não poderia penalizar, como representante do povo, camadas carentes que sofrem com a falta de assistência médica-hospitalar em diferentes regiões.
O governo foi favorecido, ainda, nessa questão específica, pelo fato de terem sido descredenciadas as organizações sociais que atuavam na gestão pactuada da Saúde no governo de Ricardo Coutinho e que acabaram arroladas em processos que apuram desvio de recursos públicos e pagamento de propinas a agentes da administração estadual, segundo os autos da operação Calvário, deflagrada pelo Ministério Público com o apoio do Gaeco. Houve, por fim, na leitura das fontes palacianas, a atuação decisiva do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adriano Galdino (PSB), que colocou o projeto em votação mesmo após o parecer contrário na Comissão de Constituição e Justiça do Poder. Galdino coroou a sua articulação política fazendo apelos emocionais, como quando se referiu à ameaça de atraso no pagamento de vencimentos de profissionais dependentes da Fundação PB Saúde.
O barulho armado pelos integrantes do G-11, em desfavor do governo, é analisado pelos interlocutores oficiais como um fato preocupante, que se mistura a reclamações pontuais de deputados desse grupo quanto à “falta de diálogo” por parte da atual gestão, no que diz respeito ao encaminhamento de reivindicações de interesse das regiões que representam no Legislativo. Uma fonte com influência junto ao governador admite que “há carência de estratégia política mais consistente por parte de João Azevêdo” e sugere que o presidente do “Cidadania”, Ronaldo Guerra, e o secretário Nonato Bandeira tenham mais envolvimento nas conversas de bastidores que possam facilitar os canais entre parlamentares e o Executivo estadual.