Em artigo publicado no site “Congresso em Foco”, intitulado “O paradoxo do PT”, o jornalista Ricardo Cappelli, ex-secretário nacional de Esporte Educacional e de Incentivo ao Esporte nos governos de Lula e Dilma, ex-presidente da UNE e atualmente secretário-chefe de representação do governo do Maranhão em Brasília, define o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como a maior liderança popular de todos os tempos, forjada a partir do Partido dos Trabalhadores, que recém-completou 40 anos de fundação, e especula que ele deverá estar no páreo contra Jair Bolsonaro dentro de dois anos. Cappelli pergunta: “Se tentou registrar sua candidatura de dentro da prisão, por que Lula não tentará registrar sua candidatura em 2022, solto para percorrer o país?”.
Cappeli lembra que Lula disputou quase todas as eleições presidenciais desde a redemocratização. Foi candidato em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e 2018, quando seu registro foi rejeitado. Em 2010, a legislação não permitia. Apenas em 2014 abriu mão, para Dilma Rousseff, “naquele que pode ter sido seu maior erro político”. E acrescenta o jornalista: “Se tentou registrar sua candidatura de dentro da prisão, por que Lula não tentará registrar sua candidatura em 2022, solto para percorrer o país?”. Lembra que em 1989 Lula foi procurado por Leonel Brizola, logo após o primeiro turno, com uma proposta: ambos renunciariam em favor de Mário Covas. O petista rejeitou e acabou derrotado por Fernando Collor de Mello.
Em 2018, foi procurado por companheiros com proposta semelhante: Fernando Haddad deveria renunciar em favor de Ciro Gomes, do PDT. O PT triunfou e elegeu grande bancada, o pedetista teria mais chances contra Bolsonaro. Lula rejeitou. Disse que se tivesse aceito a proposta de Brizola em 89 não teria chegado à presidência da República. Para Cappelli, “não há qualquer sinal de que o ex-presidente planeja passar o bastão. É um direito seu, legítimo. Em São Bernardo, no dia de sua prisão, disse que quem quisesse ocupar o seu lugar teria que trabalhar mais que ele. Na festa dos 40 anos foi ainda mais claro: “Estou lutando pelo direito de poder voltar a governar este país”. Cappelli considera Lula “vítima de uma perseguição inaceitável” e diz que ele merece todo o respeito, apoio e solidariedade. “As dores compreensíveis do cárcere e dos processos infames parecem ter empurrado o líder para o canto do ringue. O PT parece estar voltando às origens”, prossegue.
Ainda Cappelli: “Em 1989, Lula recusou conversar com o PMDB no segundo turno. Em 1994, o PT aprovou a resolução “Fora Itamar – Itamar é igual a Collor”. Segundo Zé Dirceu, em seu livro de memórias, um dos graves erros que determinou a vitória de Fernando Henrique Cardoso. “Foi justamente a ascensão de uma visão política mais ampla que levou o PT ao poder. Não foi fácil. Na véspera do encontro partidário que selou a aliança com o liberal José Alencar, o petista Patrus Ananias, opção para a vice, ficou de sobreaviso. Existia o receio de que o nome do mineiro preferido não fosse aprovado pelos correligionários”, relata Ricardo Cappelli.
E arremata: “A situação atual é complexa. Os companheiros sofrem a maior perseguição política de sua história. Neste cenário, parecem coexistir no partido duas posições distintas por três motivos diferentes. Os governadores, liderados por Rui Costa, defendem desde o ano passado uma flexão tática no protagonismo da legenda. Na afirmação do projeto de poder petista convivem duas visões. Uma corrente aposta numa reviravolta capaz de levar novamente o partido ao Planalto; outra corrente defende a mesma linha por razão diferente. Acredita que estamos diante de um novo ciclo histórico e que o melhor é se fechar, proteger atropa na dura travessia e garantir o segundo lugar. O partido jamais ganhou uma eleição nacional com uma política estreita. Em sua história, nunca apoiou um nome de outra legenda. É muito difícil a construção de uma saída progressista para o Brasil sem o apoio de Lula. Com grande força e lastro social, o maior partido do Brasil é, ao mesmo tempo, solução e problema. Um verdadeiro paradoxo”.