Nonato Guedes
Em pouco mais de três décadas após a restauração das eleições diretas para prefeitos de Capitais, o PMDB-MDB elegeu apenas dois cabeças de chapa em João Pessoa: Antônio Carneiro Arnaud em 1985 e Cícero de Lucena Filho, em 1996 e 2000. Já em 2001, Cícero Lucena se desfiliou do então PMDB, acompanhando o grupo Cunha Lima, que ingressou no PSDB por divergências com o ex-governador José Maranhão. A informação de Maranhão de que para as eleições de 2020 em João Pessoa e Campina Grande o partido articula coligações reflete o esvaziamento porque passa a legenda, que não tem nenhum deputado federal e na Assembleia conta apenas com Raniery Paulino.
Dirigentes do PMDB-MDB disseminaram, pela imprensa, o mito de que a legenda era hegemônica em João Pessoa, em virtude de votações expressivas alcançadas na Capital por candidatos a governador como Antônio Mariz e Tarcísio Burity. A agremiação se destacou, também, por boa representação na Câmara de Vereadores do maior reduto do Estado, mas os espaços foram definhando e passando a ser ocupados por outras legendas graças ao prestígio de candidatos que encamparam. Foi o caso do PSB, vitalizado a partir de 2004 com a filiação do então deputado Ricardo Coutinho, que praticamente fora expulso do PT, ou, atualmente, do PV, que ganhou expressão com a adesão do prefeito Luciano Cartaxo, eleito pelo PT, com passagem pelo PSD que chegou a ser comandado pelo ex-vice-governador Rômulo Gouveia.
Em 2004, por insistência do senador José Maranhão, o PMDB ainda conseguiu emplacar o então deputado estadual Manoel Júnior na chapa encabeçada por Ricardo, na condição de vice, mediante coligação. Júnior se desentendeu com Ricardo, a quem acusou de centralizar decisões e não lhe dar espaço e renunciou à vice-prefeitura em 2006, quando se candidatou a deputado federal, vitorioso. Atualmente, Manoel Júnior é novamente vice-prefeito de João Pessoa e provável candidato à sucessão de Luciano Cartaxo. Mas não está mais no MDB – pilota, agora, o Solidariedade, que já foi dirigido no Estado pelo ex-deputado federal Benjamin Maranhão, sobrinho de José Maranhão. Não há garantia de que Júnior venha a ter o apoio de Luciano às eleições deste ano. Cartaxo já deixou claro que o nome a ser ungido deve ser filiado aos quadros do Partido Verde e ter afinidade estreita com a sua gestão. A exemplo do que se deu quando era vice de Ricardo, Manoel Júnior não tem maior espaço na administração pessoense, embora tenha assumido o cargo algumas vezes, em caso de viagens do titular, inclusive, ao exterior.
Em 2008, quando Ricardo Coutinho se preparou para concorrer à reeleição, o então PMDB mobilizou-se para emplacar, novamente, o candidato a vice na sua chapa. Para decepção do cacique José Maranhão, porém, Ricardo tirou do bolso do colete o nome do arquiteto Luciano Agra, que não era conhecido por sua militância política mas era reconhecido pelo seu domínio dos problemas urbanos de João Pessoa. Na lista de pretendentes do PMDB constava o nome da ex-deputada federal Lúcia Braga. De tão surpreso com a escolha de Agra, já falecido, Maranhão indagou a várias pessoas se o arquiteto tinha votos. Agra assumiu a titularidade do cargo com a renúncia de Coutinho para disputar o governo em 2010. Não conseguiu legenda para pleitear a reeleição em 2012 – Ricardo barrou-lhe as portas do PSB. E decidiu cerrar fileiras com a candidatura de Luciano Cartaxo, em articulação com Nonato Bandeira (ex-PPS), que foi o vice no primeiro mandato do atual gestor. Quanto a Cícero Lucena, foi candidato a prefeito da Capital, mais uma vez, em 2012, pelo PSDB, disputando o segundo turno contra Cartaxo, que o derrotou. Seu nome volta a ser cogitado para o pleito deste ano, mas quem está na área como pré-candidato é o deputado federal Ruy Carneiro, derrotado por Ricardo em 2004.
A centralização de Maranhão e o comodismo da cúpula são apontados como fatores responsáveis pelo esvaziamento enfrentado pelo hoje MDB, incapaz de forjar nomes competitivos para encabeçar chapas a eleições de prefeito na Capital. A legenda perdeu quadros valiosos como o ex-prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rêgo, ex-deputado federal, que só conseguiu ascender ao Senado, em 2018, porque migrou para o PSB e teve prestígio junto ao ex-governador Ricardo Coutinho. A influência do MDB, atualmente, é em bolsões do interior e, esporadicamente, em centros estratégicos como Guarabira, no brejo.