O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou que já ocupou todos os cargos possíveis e não será mais candidato em eleições. Ele acrescentou que pretende se manter o mais discreto possível porque considera este o papel a ser desempenhado por quem foi presidente da República. Temer entrou para a vida pública em 1983 ao ser nomeado procurador-geral do Estado de São Paulo pelo governador Franco Montoro. Ele foi deputado constituinte, presidiu a Câmara dos Deputados três vezes, foi vice-presidente e presidente da República. Também comandou o PMDB por 15 anos, quando o partido era o maior do Brasil.
O ex-presidente disse ainda que depois de envergar a faixa presidencial não existe mais cargo a ocupar politicamente. “Eu já fui tudo”, sentenciou., acrescentando: “A essa altura, eu não tenho nenhuma intenção de ser candidato. Até porque, quem chegou à Presidência da República, em primeiro lugar, não pode ocupar outro cargo. Em segundo lugar, tem que ser de uma discrição absoluta. O que tenho procurado fazer”. Falando da carreira, o ex-presidente declarou que tem somente um arrependimento: a conversa com Joesley Batista. O empresário da JBS gravou o presidente e a divulgação do conteúdo gerou grande crise com expectativas de que ele renunciasse. Temer fez um pronunciamento de maneira enfática, falando “não renunciarei, repito, não renunciarei”.
Ele declara que não praticou qualquer ilegalidade, mas reclamou que o episódio atrapalhou seu governo. “Se você perguntasse, “do que você se arrependeu?”. Acho que me arrependi de receber esse sujeito (Joesley Batista). Embora não tivesse a menor ideia, embora recebesse muitos (empresários). Porque, as vezes, a pessoa diz assim: “mas você recebeu às dez e meia da noite”. Meu caro, você acha que o presidente trabalha das 8 até 6 horas da tarde?”. Depois de deixar a Presidência, Michel Temer foi preso em um desdobramento da Operação Lava-Jato, em março do ano passado, sob suspeita de ter recebido propina de R$ 1,1 milhão de um contrato da Eletronuclear, estatal responsável pela construção de Angra 3.
Pessoas ligadas ao ex-presidente como seu ex-ministro Moreira Franco e o ex-coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho também foram detidos. Temer foi preso pela segunda vez por causa da mesma situação, sob suspeita dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e desvio de dinheiro público. Ele refuta as acusações e diz que vai provar inocência. Em 2010, Michel Temer foi eleito vice-presidente da República na chapa encabeçada por Dilma Rousseff, do PT. Ambos foram reconduzidos na eleição seguinte. Em 2016, o Senado instaurou o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Temer assume interinamente e fica no cargo até as eleições. Ele acabou sendo acusado por Dilma e pelos petistas de “golpista” – por essa versão, teria atuado nos bastidores para viabilizar o processo de impeachment de Dilma, que foi acusada de “pedaladas fiscais” pelo Tribunal de Contas da União. Em 2019, Michel Temer entregou a faixa presidencial ao presidente Jair Bolsonaro.