Nonato Guedes
Em ato publicado no “Diário Oficial” do Estado, o governo João Azevêdo (Cidadania) institui 2020 como o “Ano Cultural Sivuca”, para homenagear o multinstrumentista Severino Dias de Oliveira, o Sivuca, natural de Itabaiana e respeitado internacionalmente. Sivuca, que morreu em 14 de dezembro de 2006, era considerado um músico completo e começou a tocar com nove anos de idade. Nasceu no dia 26 de maio de 1930, às 10h de uma segunda-feira – “nessa data não chovia”, fazia questão de dizer. “Por isso, os raios de sol trouxeram, além do recém-nascido, a luz em que ele seria transformado no futuro”, anotou a repórter Silvana Sorrentino em texto publicado na revista “Ponto de Cem Réis”, do jornal “A União”, de 13 de novembro de 1994.
Integrante de uma família de oito irmãos, Sivuca foi o único a se interessar pela música. Em 1939 o pai comprou uma sanfona, mas não para ele, e, sim, para o irmão mais velho, Gercino. Foi a primeira decepção, mas Sivuca não se deixou abater. Tocava escondido, com base apenas no conhecimento sobre realejo. Em pouco tempo, era atração nas festinhas da escola. Em 1944, ele chegou a João Pessoa e, na rádio Tabajara, tocou e deslumbrou o maestro Severino Araújo, que pediu sua contratação à direção da então principal emissora de rádio da Capital. Não deu certo – os dirigentes alegaram falta de dinheiro. O filho de Itabaiana tomou, então, o rumo do Recife, onde, em 1945, passou a compor a orquestra da Rádio Clube de Pernambuco. Por dez anos atuou na capital de Pernambuco, dividindo-se entre a Rádio Clube e a Rádio Jornal do Commercio. Lá, também fez o curso de Harmonia com o maestro Guerra Peixe, um incentivador.
Relata Silvana Sorrentino que o passo seguinte para a consagração foi a TV Tupi do Rio de Janeiro, que o convidou em 1955, tendo Sivuca permanecido na emissora até 59, quando embarcou para Portugal. Já batizado como “Sivuca” pelo maestro Nelson Ferreira, optou por aventurar-se na França, onde teve que se virar descarregando caminhões no mercado, tocando pandeiro, fazendo de tudo um pouco para sobreviver. Foi após 15 audições para ingressar em um clube parisiense que ele conseguiu o intento. Na Maison Barclay começou a gravar e iniciou-se a fase áurea. Permaneceu por cinco anos na França, considerados de grande aprendizado para a sua formação. Voltou para o Brasil em plena conturbação política, com o golpe militar de 1964 e acabou aceitando um convite para ser assessor musical de Carmem Costa, nos Estados Unidos. Ficou treze anos nos EUA, contrariando o prazo previsto de permanência, de seis meses.
No Brasil, de passagem por João Pessoa, conheceu a compositora Glorinha Gadelha, que além de parceira se tornou sua companheira. No Rio, o dramaturgo paraibano Paulo Pontes apresentou-o a Chico Buarque. Juntos, eles gravaram um dos maiores sucessos da dupla: João e Maria, com letra de Sivuca. De 76 em diante, manteve-se radicado no Rio mas convertido em viajante internacional – fez shows na Dinamarca, Portugal, França, Estados Unidos e sua música foi gravada na Finlândia, Japão, Dinamarca, Argentina, Argélia, Uganda, Paraguai….Ele confessou que foi no Brasil, contudo, que seu talento explodiu em grande forma, ocasião em que fez suas primeiras partituras sinfônicas. O crítico musical Carlos Aranha opinou que Sivuca conseguiu ter a unanimidade do reconhecimento ao seu talento.
Sílvio Osias, que pontifica no “JPB online”, no depoimento a Silvana Sorrentino, foi taxativo: “Nunca vou esquecer o dia em que vi Sivuca pela primeira vez. O ano era 1974. Eu tinha 15 anos. Já era apaixonado por música e um dia passei pelo Teatro Santa Roza e vi um cartaz que dizia: “Domingo Sivuca”. O músico que morava em Nova York estava de férias em João Pessoa e seria homenageado pelo governo do Estado. No domingo fui vê-lo. O teatro estava cheio e Sivuca, sozinho no palco com sua sanfona, contou histórias e tocou. Tocou muito. Dos forrós de pé de serra a MoonlightSerenade. Eu era um menino, mas minha paixão pela música me ajudava a perceber que eu estava diante de um grande músico. Nunca vou esquecer aquela noite no Teatro Santa Roza”. Em 2020, o gênio Sivuca, que era chamado de figura exótica (pelos traços albinos) e talentosa, divide homenagens com outro paraibano ilustre e também internacional – o economista Celso Furtado, fundador da Sudene, natural de Pombal, cujo centenário de nascimento é comemorado. Na Assembleia Legislativa coube à deputada Pollyanna Dutra (PSB) propor a instituição do “Ano Celso Furtado”, o que foi oficializado, também, pelo governador João Azevêdo.