Partidos e políticos de diferentes legendas, entidades de representação de jornalistas,autoridades e expoentes da sociedade civil brasileira uniram-se, nas últimas horas, no repúdio ao presidente da República, Jair Bolsonaro, pelo insulto feito, com insinuação sexual, à repórter Patrícia Campos Mello, da “Folha de São Paulo”. “Ela (repórter) queria um furo. Ela queria dar um furo a qualquer preço contra mim (risos dele e dos demais)”, disse o presidente, diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada em Brasília. A Associação Brasileira de Imprensa advertiu que Bolsonaro tem atacado sistematicamente a democracia, e um dos seus dirigentes foi taxativo: “Alguém tem que parar esse homem”.
A ofensa do presidente à jornalista foi uma referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPMI das Fake News no Congresso Nacional. Em editorial, a “Folha” acusou o presidente de reincidir nos ataques ao “edifício constitucional” do país. Adiantou: “O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”. A Ordem dos Advogados do Brasil protestou contra o dirigente e a deputada Lídice da Mata, do PSB-BA desabafou: “Atitude covarde, descabida e grotesca do presidente da República com a jornalista. Em mais de 30 anos de vida pública, nunca imaginei ver algo tão ridículo de um mandatário da Nação”.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que no seu governo ameaçou expulsar do Brasil um jornalista do “New York Times”, por matéria insinuando “bebedeira” em excesso por parte do mandatário, disse que já virou comportamento cotidiano de Bolsonaro ofender e achincalhar as pessoas. “Lamentavelmente, me parece que a educação, o respeito, não chegou à cabeça do presidente Bolsonaro. Eu penso que está na hora de ele aprender bons modos”. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT)identificou postura de misoginia da parte de Bolsonaro, pelo temor das revelações das reportagens da jornalista Patrícia Campos Mello. O apresentador de TV Luciano Huck, provável candidato a presidente da República em 2022, disse considerar “triste e revoltante” o insulto feito pelo presidente contra a repórter. “Bolsonaro ultrapassou as fronteiras da decência” e “atiçou a violência contra as mulheres”.
A “Folha de São Paulo” afirmou que ao completar 99 anos de fundação está mais uma vez sob ataque de um presidente da República. “Jair Bolsonaro atiça as falanges governistas contra o jornal e seus profissionais, mas seu alvo final não é um veículo nem tampouco a imprensa profissional. Ele faz carga contra o edifício constitucional da democracia brasileira”, pontuou. O editorial da “Folha” ressalta que a Presidência da República está sendo contaminada pelos “modos incivis, ignorância entranhada, machismo abjeto e espírito de facção trazidos pelo seu ocupante temporário”. Acrescentou que Bolsonaro comporta-se como chefe de bando. “Seus jagunços avançam contra a reputação de quem se anteponha à aventura autoritária (…) Há método na ofensiva. Os atores agredidos integram o aparato que evita a penetração do veneno do despotismo no organismo institucional (…) Pistoleiros digitais, milicianos e uma parte dos militares compõem dos sonhos do presidente para compensar a sua pequenez, satisfazer a sua índole cesarista e desafiar o rochedo do Estado democrático de Direito. Ao entrar no seu centésimo ano, a “Folha” está convicta de que o jogo sujo encontrará a resposta das instituições democráticas. Elas, como o jornalismo, têm de longo prazo. Jair Bolsonaro, não”.