Folha de São Paulo
Assim como no Ceará, administrado por Camilo Santana (PT), governadores de norte a sul do país enfrentam embates com categorias policiais. A tensão se eleva em tornos de pautas como reajuste salarial e condições de trabalho, mas também adentra a pauta política.
Na Paraíba, por exemplo, o clima é tenso entre o governo estadual e as forças policiais. Nesta quarta-feira (19), parte do efetivo da Polícia Militar, da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros realizou uma paralisação de advertência de 12 horas.
Uma nova manifestação por reajuste salarial e melhores condições de trabalho pode ocorrer durante o Carnaval. Desta vez, a paralisação, que inclui retirada de policiais em serviço extra e fechamento de delegacias, será de 24 horas.
O movimento desta quarta deixou um saldo de seis viaturas da PM danificadas antes do desfile do bloco Muriçocas do Miramar, que reuniu uma multidão em João Pessoa.
Devido à paralisação, o efetivo da Polícia Militar que estava previsto para a segurança do evento foi reduzido de 800 para 500 homens. O coronel Francisco de Assis, presidente do Clube dos Oficiais da Polícia e Bombeiro Militar, informou que o Governo da Paraíba não se posiciona sobre os pedidos das categorias.
De acordo com ele, os policiais querem reajuste salarial de 24%, dividido em três anos, e ainda a incorporação ao salário da chamada bolsa-desempenho, gratificação que chega a 45% do valor dos vencimentos para aqueles que estão na rua. O benefício é pago desde 2012.
“Aqui na Paraíba, um dos estados que mais reduziu o número de homicídios, o policial que leva um tiro e fica sem poder ir para a rua recebe como prêmio uma redução de quase metade do salário porque a bolsa-desempenho é cortada”, diz Assis.
O Governo da Paraíba informou que continua mobilizado para chegar a um acordo por meio do diálogo com os policiais.
Em decisão liminar, o desembargador Leandro Santos, do Tribunal de Justiça da Paraíba, decretou a ilegalidade do movimento e determinou a suspensão de qualquer tipo de paralisação dos serviços policiais.
Em São Paulo, muito longe de atender as expectativas dos policiais, que aguardavam uma valorização histórica, o governador João Doria (PSDB) anunciou em outubro um aumento salarial de 5% para as forças de segurança paulista.
O aumento, que deve valer a partir de 1º de janeiro, foi considerado pelas associações de classe quase uma afronta em razão da discrepância entre a promessa de campanha, quando Doria prometeu o melhor salário do país às suas polícias, e o anunciado, que não repara a defasagem salarial acumulada há anos.
As críticas dos policiais acontecem porque, desde o ano passado, Doria prometia reajustes recordes às forças de segurança paulista para mudar o quadro do estado, que tem um dos piores salários do país.
Com salários parcelados, como no Rio Grande do Sul, e defasagem há pelo menos cinco anos como em Alagoas, servidores da segurança do Norte ao Sul do país têm organizado manifestações. Os protestos partem tanto dos militares como dos civis.
“Se não tiver diálogo, pode acontecer o que aconteceu no Ceará. A gente tem receio que o governo faça o mesmo que lá [avançar com retroescavadeira]. Se fizer isso, vamos tratar na mesma moeda do pessoal lá [tiro]”, diz Ricardo Nazário da Silva, presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas (Sindpol-AL).