Kubitschek Pinheiro
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Há mesmo meritocracia no Brasil? Não, o Brésil é a própria carnavalização. Minha audição é preto-e-branco. Ou preto no branco. Na dúvida, nesse carnaval, opte sempre pela atitude menos irritante. Não sei quem disse isso, mas lembro bem quando vi Agildo Ribeiro pela primeira vez numa Feijoada do Abelardo, no Hotel Ouro Branco. Foi só século passado. O mundo já acabou, eu sei.
Exemplo grátis: morando no silencio, não desperdiçar uma única oportunidade de sair para ver o mundo, aliás, o mundo já foi mais inteligente, mais criativo e mais elegante. Só restam entulhos. O que é arte e o que não é arte?
Fazer alusões mais ou menos sutis a coisas como falta de dentes, verminose, alto teor alcoólico e o pênis vigoroso do poema de Irene Dias. Não, não faça isso. E, sobretudo, não se esquecer de esconder de voltar pra casa. Porém, se convidado para uma noitada de vinhos, aquela gente sabidona que sabe direitinho a diferença entre Merlot, Chardonnay e Chapinha, vire a rolha. Aliás, nem vinho tomei.
Se eu tivesse um chapéu de cangaceiro não colaria em cima da minha cabeça de fósforo, mas abomino sandália de couro cru e triângulo e zabumba, mas São João Xangô menino é lindo. O carnaval já passou?
Resumindo: as suas, as minhas intervenções -muitas- nas conversas alheias, todas naquele inglês eduardiano, a cantar “eu já dancei balancê, chamego, samba e xerém”, não rola não viu, porque nu carnaval o pau canta.
Saudades da jornalista Lena Guimarães, do bar da Xoxota, que nasceu e morreu de propósito.
Puxa vida! A síndrome do intestino irritável irrita pra caramba. Mas parece que é o mundo todo. Aliás, com a minha cabeça de fósforo eu não saio de casa nesse carnaval.
Na alegria pulo, disfarço e faço mímica. Quando estou triste, bem triste não faço nada: corro para cima da caixa d´água e de lá contemplo o telhado, onde me escondia antigamente das caretices do mundo.
No carnaval deste ano quero ser um santo, mas até os anjos correm o risco de enjoar da modernidade. Amanhã de manhã vou pegar o expresso do oriente, cheio de gente, alguns belos entoando cantos gregorianos e eu chorando o amor por aquela colombina que me abandonou. Ingrata!
Fingir é fugir pela porta da frente, sabia? Às vezes vejo minha ansiedade exposto no álbum de figurinhas que comprava para meu filho. É isso, vou dormir com minha cara de desprezo.
“Um dia a vida será mais justa”.
Sim. Esperemos que sim. A frase é de Oscar Niemeyer. Um dia esse país deixará ser absurdamente cruel com tanto roubo e corrupção, para quem pelo menos estiver vivo. Um dia, fulanistas hipócritas ouvirão tudo aquilo que merecem e não apenas elogios e loas, fruto direto de um país covarde o suficiente para não recriminar os horrores que assistimos a olho nu.
É, Oscar. Um dia o mundo há de ser mais justo. Esperemos.