Nonato Guedes
O ex-deputado estadual e ex-prefeito de Santa Rita, Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, foi de um extremo a outro em pouquíssimo tempo no quadro político paraibano e reagiu com ironia a essa guinada no seu currículo. Em 1985, ele foi candidato a prefeito de João Pessoa pelo PTB com o apoio do ex-governador Tarcísio Burity contra Carneiro Arnaud (o eleito), que concorreu pelo PMDB com o apoio do governador Wilson Braga (PDS). Em 86, Braga foi quem sustentou a candidatura de Odilon a vice-governador na chapa da coligação PFL-PDS-PTB, encabeçada por Marcondes Gadelha. A reação de Marcus Odilon a tal reviravolta foi antológica e mordaz: “O PMDB me convenceu de que Braga é um santo”. A declaração consta de uma matéria publicada no primeiro número da revista “A Carta”, editada pelo saudoso jornalista Josélio Gondim e que teve repercussão nacional com um “furo” sobre a renúncia de Fernando Collor antes do impeachment em 1992.
A chapa Marcondes-Odilon foi derrotada por Burity-Raymundo Asfora por quase 300 mil votos de diferença. A esta altura, Burity já havia migrado para o PMDB, onde teve as bênçãos do senador Humberto Lucena para ser ungido candidato ao governo na undécima hora dos prazos legais. Marcondes substituiu no páreo ao empresário José Carlos da Silva Júnior, ex-vice-governador de Braga, que desistiu da candidatura ao governo por desconfiar de manobras para fazê-lo trem pagador de campanhas de candidatos da coligação. A reportagem de “A Carta” deu conta de que o namoro entre Braga e Odilon, na verdade, começara tão logo se fecharam as urnas de 85 e o então deputado petebista arrastou 50 mil votos, apenas dez mil a menos do total obtido por Carneiro. Poucos dias depois do dia 15 de novembro, quando começaram a se encaixar as peças para o jogo sucessório ao governo do Estado, Wilson procurou Odilon para um encontro que seria o primeiro de uma série. “ senha para a reaproximação foi um elogio de corpo presente: “Parabéns! Você foi um gigante e quase nos tira o sono na campanha”, recitou Braga para um perplexo Odilon.
O impacto maior veio mais tarde quando Braga convidou o seu ex-desafeto para ser candidato a vice-governador numa chapa em coligação com o esquema oficial. O compromisso foi mantido de pé a despeito de confianças na crônica política. Marcus resistiu a dois candidatos ao governo e a atribulações dentro do PFL motivadas por pretensões paralelas de outros candidatos e logrou firmar-se no páreo sem arranhões. O PTB contava na Paraíba com cerca de 79 diretórios, mas não era reconhecido como um partido forte no Estado. Somente na Capital conseguiu ganhar espaços graças à votação surpreendente alcançada por Odilon na eleição para prefeito em 85. Em meio a versões sobre quem foi o “grande cabo eleitoral” – se Burity ou o próprio Marcus – o desfecho alçou Odilon ao primeiro plano do quadro político na grande João Pessoa.
Sua escolha para a vice-governança de Marcondes, além do empenho pessoal de Braga, foi fruto de uma decisão do ex-candidato a governador José Carlos da Silva Júnior, que defendia aquele nome para contrabalançar o favoritismo oposicionista na Capital e nos arredores. Marcus foi adotado como vice ainda quando Zé Carlos estava candidato e se manteve quando ele jogou o boné. Na prática, trocou de parceria, passando a vice de Marcondes, menos de um mês após o eu engajamento na campanha, que incluiu incursões por cidades do interior. Odilon não reclamou da substituição na cabeça de chapa. “O senador tem o mesmo valor que o empresário José Carlos”, obtemperou, atribuindo a desistência do empresário à necessidade de dedicar-se a empreendimentos da sua carreira empresarial.
Marcus só bateu o pé quando houve articulações a partir de Campina Grande para tomar-lhe a vaga de candidato a vice-governador na chapa liderada por Marcondes Gadelha. A saída de José Carlos, conforme notou a detalhada matéria de “A Carta”, abriu um flanco perigoso para o esquema oficial em Campina, segundo colégio eleitoral do Estado e as lideranças locais passaram a fazer cavalo de batalha, exigindo a vice como compensação por não ter mais a cabeça de chapa. Marcondes Gadelha ainda foi receptivo a ensaios de bastidores para viabilizar a substituição de Odilon, mas este e o PTB mantiveram-se intransigentes. A chamada Aliança Trabalhista foi, então, registrada no Tribunal Regional Eleitoral, e Odilon fazia prognósticos de vitória irreversível. Quanto ao fato de ter Braga como avalista da sua pretensão, se disse lisonjeado. “Convenci-me de que Braga é um santo depois de ver o PMDB aliado a ele na campanha para a prefeitura, cobrindo-o de elogios”, ironizou.
Da mesma forma, não demonstrava remorsos por ter rompido com Burity, seu principal cabo eleitoral em 1985. “O cemitério está cheio de insubstituíveis”, foi a sua resposta. Marcus Odilon, que nos deixou ontem, escreveu, entre outros livros, um que fez sucesso e ainda hoje é mencionado pelo título emblemático: “Poder, Alegria dos Homens”. Uma definição irretocável do que o poder simboliza, ainda hoje, para homens e mulheres, no Brasil e no mundo.