Nonato Guedes, com agências
O governador de São Paulo, João Doria, o do Maranhão, Flávio Dino, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso repudiaram um vídeo do presidente Jair Bolsonaro, divulgado no WhatsApp, convocando para ato público conta o Congresso no dia 15 de março próximo. Os políticos ressaltam que a manifestação tem um viés golpista e dizem que panfletos têm evocado o Ato Institucional Número Cinco, editado no regime militar em 1968, que cassava mandatos e censurava a imprensa e os meios artísticos e culturais, além de conferir outros poderes excepcionais ao poder de plantão.
Além da Câmara, presidida por Maia, também é alvo dos ataques de Bolsonaro o Senado presidido por Davi Alcolumbre. O vídeo, compartilhado pela jornalista Vera Magalhães, traz imagens da facada sofrida por Bolsonaro em 2018 durante ato de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais, e diz que presidente “quase morreu” para salvar o país. Assim, o vídeo pede que as pessoas saiam às ruas para defender Bolsonaro e, ao mesmo tempo, pressionar o Congresso. Nos últimos dias, o general Augusto Heleno, do Gabinete Institucional da Presidência da República, acirrou os ânimos chamando os parlamentares de “chantagistas”. Bolsonaro endossou a atitude do general Heleno e disse: “O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”. O vídeo usa ainda o Hino Nacional tocado no saxofone como trilha sonora.
“Ele foi chamado a lutar por nós. Ele comprou a briga por nós. Ele desafiou os poderosos por nós. Ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós. Ele sofre calúnias e mentiras por fazer o melhor para nós. Ele é a nossa única esperança de dias cada vez melhores. Ele precisa de nosso apoio nas ruas. Dia 15.3. vamos mostrar a força da família brasileira. Vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil. Somos, sim, capazes, e temos um presidente trabalhador, incansável, cristão, patriota, capaz, justo, incorruptível. Dia 15/03, todos nas ruas apoiando Bolsonaro”, diz o texto do vídeo, que é intercalado por imagens de Bolsonaro sendo esfaqueado, no hospital e depois em aparições públicas.
As primeiras convocações para o ato vieram de grupos como o “Movimento Brasil Conservador” e “Movimento Conservador”, ambos ligados ao clã Bolsonaro, logo depois que o ministro Augusto Heleno desabafou sobre supostas “chantagens” do Congresso Nacional contra o governo. Desde então passaram a circular nas redes sociais panfletos do ato pedindo o fechamento do Congresso e a instauração de um novo AI-5 para “faxina geral” no Legislativo. Outro panfleto, assinado por “movimentos patriotas e conservadores” também traz fotos do general Heleno, do vice-presidente Hamilton Mourão e d outros generais com cargos públicos convocando para o ato. No texto, há frases como “os generais aguardam as ordens do povo” e, em seguida, “Fora Maia e Alcolumbre”. Nem Heleno nem Mourão repudiaram o uso de suas imagens no panfleto. O governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, escreveu no Twitter que a situação do país “é extremamente grave”.
– É extremamente grave que altas autoridades civis e militares estejam apoiando atos políticos contra os poderes Legislativo e Judiciário. Os defeitos destes têm que ser enfrentados de acordo com as leis, não com coação. Lembrando que tal coação constitui crime de responsabilidade – escreveu Flávio Dino. O governador de São Paulo, João Doria, disse que a manifestação é uma afronta à democracia. “É mais um equívoco do governo Bolsonaro apoiar uma iniciativa como essa”, disse ele, de acordo com o site “O Antagonista”. E completou: “Essa iniciativa afronta a democracia. Sou totalmente contra”.