A decisão de compartilhar um vídeo na internet em que há convocação de ato público contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal ampliou o isolamento do presidente Jair Bolsonaro em segmentos da sociedade. Ele continua promovendo ataques a jornalistas e acusando a imprensa de distorcer os seus atos. Partidos de oposição começaram a se mobilizar nas últimas horas para examinar a viabilidade de realização de uma manifestação no dia 18 de março, como contraponto à manifestação que apoiadores do presidente planejam para o dia 15 do próximo mês. Ao mesmo tempo, a proposta de impeachment do presidente voltou a entrar no radar de líderes oposicionistas, que denunciam uma possível escalada golpista. Mas, dentro da própria oposição, há quem recomende cautela, diante do apoio popular que Bolsonaro ainda tem.
Enquanto isso, as reformas administrativa e tributária têm pela frente um novo desafio após os atritos causados por declarações e atitudes de Bolsonaro, que, em “live”, ontem, descartou a hipótese de renunciar ao cargo e insinuou que está sendo criticado por órgãos de imprensa porque eles querem dinheiro do governo. O presidente, em rede social, chegou a fazer propaganda do canal de televisão CNN que se prepara para entrar em operação no país e que conta com profissionais identificados com o bolsonarismo. Entre deputados e senadores entrevistados pelo site “Congresso em Foco”, o tom é de incerteza e preocupação com os desdobramentos da crise no Congresso, face a votações de matérias consideradas essenciais pelo governo.
A dimensão do episódio deve ser mais bem avaliada nos próximos dias, inclusive com novos pronunciamentos do presidente da República sobre o assunto e o retorno dos congressistas a Brasília. O futuro das reformas dependerá mais do que nunca dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que terão de apagar o incêndio provocado por Bolsonaro. O entendimento de congressistas próximos a Maia e Alcolumbre é de que os dois tentarão blindar a agenda econômica, reforçando ainda mais o discurso que já vinham propagando de que as reformas são obra do Congresso, apesar do Palácio do Planalto. Expoentes do Democratas revelaram ser difícil a aprovação da reforma administrativa em 2020. Mas o senador Roberto Rocha, do PSDB-MA, presidente da comissão mista da reforma tributária, revelou que quanto a esta vai manter o calendário de funcionamento do grupo que quer unir os textos da Câmara e Senado.