Nonato Guedes
O governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, que já se anunciou pré-candidato à Presidência da República em 2022, mantém-se a todo vapor na articulação junto a governadores do Nordeste para reforçar a briga declarada que sustenta com o presidente Jair Bolsonaro desde que este referiu-se pejorativamente a “governadores de paraíba” e emendou dizendo que “o pior de todos é o do Maranhão”. Aparentemente, o gestor maranhense tem o apoio da maioria dos colegas da região – em alguns casos, da totalidade, quando questiona declarações e atitudes de Bolsonaro teoricamente nocivas aos interesses dos nordestinos. Não está explicitado nem poderia, dada a distância do pleito, o apoio desses colegas à hipótese de uma candidatura de Dino, até porque eles não são filiados ao PCdoB, embora se digam situados no campo de centro-esquerda (posição em que se coloca o paraibano João Azevêdo, ex-PSB, atual Cidadania).
Ontem mesmo, Dino voltou a atacar, organizando solidariedade de gestores do Nordeste ao cearense Camilo Santana, do PT, em caso de não prorrogação, pelo governo Bolsonaro, do decreto que vem assegurando a presença de militares do Exército no Estado a fim de substituir policiais em greve na manutenção da ordem pública. Dino amanheceu a sexta acenando com o deslocamento de policiais de Estados nordestinos para o Ceará caso a tropa federal seja retirada. O Planalto, atento aos seus movimentos, prorrogou por mais uma semana a permanência do Exército em Fortaleza e cidades do interior. O governador Camilo Santana contava com a prorrogação por um mês, porque isto lhe daria tempo para manobrar em meio a uma situação em que o diálogo não avançou e o impasse afeta nitidamente o cotidiano do povo do Ceará.
Governadores do Nordeste já emitiram notas duras de contestação ao presidente Jair Bolsonaro e recentemente hipotecaram apoio ao gestor da Bahia, cuja Polícia Militar foi acusada de matar propositadamente, por “queima de arquivo”, o ex-capitão do Bope e miliciano Adriano da Nóbrega, que no passado recente teve ligações com integrantes do “clã” de Bolsonaro. A irritação do presidente para com os gestores do NE já se manifestou por outra razão – como, por exemplo, a criação de um certo Consórcio Nordeste para a venda direta de produtos a investidores do exterior. O Consórcio foi encarado como uma estratégia para reduzir o grau de dependência dos Estados da região com relação à União, que no Brasil tem a tradição de centralizar recursos em detrimento dos entes federados. Bolsonaro, é claro, não gostou do tal Consórcio e procurou desqualificá-lo, lançando mão de expressões chulas que têm constituído o seu vocabulário na Presidência da República.
Em meio ao fogo cruzado opondo Bolsonaro a gestores nordestinos sobressai, naturalmente, a figura de Flávio Dino, ex-juiz federal e ex-deputado, que é tratado na mídia como nova estrela da esquerda e procura realçar sua imagem com o argumento de que é a antítese à oligarquia do ex-presidente José Sarney, que por cerca de meio século esteve arraigada nos círculos de poder do Maranhão. Numa reportagem publicada há duas semanas, a revista “Veja” desmistifica a figura do governador maranhense e informa que sua estrela não brilha no próprio governo, já que, se é verdade que educação e saúde melhoraram, também é certo que o desemprego quase dobrou e a miséria aumentou. Dino, que chegou a se definir como um comunista que levaria o capitalismo ao Maranhão, tem legado déficits consecutivos à frente do Palácio dos Leões. E, para agravar ainda mais a situação, o governo federal ampliou a contenção dos repasses destinados a programas assistenciais.
Assim é que, em janeiro, a fila do Bolsa Família, antes zerada, tinha subido para quase 500 000 pessoas – hoje, chega a 1 milhão. Só no Maranhão, o maior dependente do programa, houve o cancelamento de 56 000 cadastros de famílias. “É uma situação crítica para a maioria das cidades locais, cuja economia depende do tripé formado por concessão dos benefícios, aposentadorias rurais e pagamento em dia dos servidores”, acrescentou a matéria de “Veja”, notando que em meio à crise econômica Flávio Dino aproveitou empréstimos que tinha à disposição para elevar consideravelmente os gastos públicos, concedendo aumentos substanciais aos professores, reformando escolas, inaugurando hospitais e mantendo em dia o pagamento dos servidores. “Sou governador, mão milagreiro”, costuma afirmar o governador, quando abordado sobre a situação do Estado.
É difícil prever o futuro político de Flávio Dino, principalmente o seu desempenho numa disputa presidencial contra Bolsonaro, que tem direito à reeleição caso supere as ameaças de impeachment. O PT já deu sinais de que respeita a desenvoltura e a habilidade do comunista na articulação política, certamente por causa do antagonismo que ele construiu com Bolsonaro. Dino, quando questionado sobre pretensões ao Planalto, sai pela tangente. Defende a formação de uma frente ampla contra o bolsonarismo. Mas acaba se traindo quando declara: “Uma candidatura à Presidência poderá se colocar se houver um conjunto de forças me apoiando. Se não houver, serei candidato ao Senado”. Ou seja, ele se prepara para correr na pista.