Nonato Guedes
Em entrevista à revista “Veja”, publicada na seção das “páginas amarelas”, o ex-senador Luiz Estevão de Oliveira Neto (DF), preso por corrupção, afirma que empresários adoram ser achacados por políticos, fala da rotina ao lado de detentos da Operação Lava-Jato e assegura que o juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça do governo Bolsonaro, revolucionou o país. Luiz Estevão foi condenado a 25 anos de prisão por peculato, estelionato e corrupção. Cumpre a pena no regime semiaberto, o que lhe permite trabalhar todo dia. Sai do presídio da Papuda, em Brasília, às 7h da manhã e volta às 21h. Durante o dia, de segunda a sábado, é obrigado a ficar num escritório imobiliário, onde vende e aluga imóveis e pessoalmente orienta corretores. A situação deve perdurar até o fim deste ano, quando passa para o aberto.
Do ponto de vista financeiro, os bens de Estevão continuam bloqueados pela Justiça. Ele conta: “Eu devia quase 800 milhões de reais do dinheiro que me acusam de ter desviado e me cobram uns 2 bilhões em impostos”. O empresário brasiliense, em 1998, já bilionário, elegeu-se senador e foi o primeiro da história a ser cassado, sob a acusação de ter desviado 169 milhões de reais da obra do TRT de São Paulo. Depois disso, foi condenado por corrupção e tornou-se o primeiro figurão a ser preso após uma decisão de segunda instância. Na entrevista, ele confirmou que reformou o presídio da Papuda a pedido do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, morto em 2014, para realizar uma obra clandestina. Luiz Estevão afirma, com ênfase, que “depois da Lava-Jato a roubalheira diminuiu muito porque as pessoas agora têm medo da prisão”. A corrupção, no seu modo de ver, passou a ser um caminho perigoso.
– A corrupção é uma pandemia universal. O que muda são as facilidades para corromper. O que valia antes da Lava-Jato não era a meritocracia, a empresa ter condições de fazer uma obra de qualidade, ser competitiva. O que valia era seguir a cartilha da corrupção. O que o juiz Sergio Moro fez em benefício do Brasil ainda não foi dimensionado corretamente (…) Agora vejo um esforço gigantesco para derrubar os instrumentos que permitiram frear a bandalheira – delação premiada, prisão em segunda instância, essa coisa toda, mas acho que ninguém vai conseguir. Ele (Sergio Moro) deu um basta, provocou um tsunami que atingiu em cheio esse submundo que conheço bem. A roubalheira diminuiu muito porque as pessoas agora têm medo da prisão – enfatiza Luiz Estevão.
O ex-senador adverte que o empresário não é vítima no processo de corrupção. “Digamos que ele torce para ser vítima, torce para ser chamado para uma “conversinha”. Quando ele recebe o convite, sai soltando foguetes”, perfila. Segundo Estevão, quando surge uma obra, o representante do órgão público que é emissário de um político ou de um grupo político, indica um operador – e aí começa um processo que não tem limites, em que todos passam a ganhar. Nesse momento, o céu é o limite. “Uma obra que deveria custar 50 pula para 80, 100, 120. Essa foi a regra durante muitos e muitos anos”, ensina o ex-senador. Ele conviveu, na prisão, com condenados do mensalão e da Lava-Jato. Conheceu o ex-ministro José Dirceu, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o ex-assessor do presidente Michel Temer, Rocha Loures, entre outros.
– Eu e Zé Dirceu dividimos a mesma cela, dormimos na mesma cela, tivemos uma convivência extremamente boa. Ele não reclama de nada, não se queixa de nada, nunca o vi se lamentando, o que também é o meu perfil. Já o Geddel chorava muito. Não apenas ele. Estive com o Henrique Pizzolato (petista, condenado no mensalão), com o Ramon Hollerbach (publicitário, condenado no mensalão). Muitos deles enfrentaram situações de profunda depressão a ponto de eu chegar e dizer: “Você não vai tomar remédio agora não. Seu remédio vai ficar comigo e eu vou lhe dar todo dia a dose certa”. Com que autoridade eu fazia isso? Nenhuma. Mas pensava: “Esse cara um dia vai se matar”. Havia uma preocupação muito grande com a possibilidade de suicídio de alguns desses presos do mensalão e da Lava-Jato”.