Em diferentes cidades brasileiras, grupos de mulheres reuniram-se para manifestações pelo Dia Internacional da Mulher celebrado ontem e protestos contra o presidente Jair Bolsonaro, acusado de “misoginia”. Atos em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte também lembraram o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). O presidente da República encontrava-se nos Estados Unidos, onde foi recebido por Donald Trump e postou mensagem de saudação às mulheres em rede social, homenageando sua mãe, ainda viva, com reprodução de uma foto.
Na avenida Paulista, em São Paulo, manifestantes de coletivos como Evangélicas pela Igualdade de Gênero, Central Sindical Popular e Mulheres do Sindicato dos Metroviários começaram a se reunir às 14h no vão-livre do Masp e no parque Mário Covas. O ato, sob chuva, também contou com a presença de grupos ligados a partidos como PSOL, PSTU, PCO e PT. Havia uma cabana de filiação para o PT. O assassinato da vereadora Marielle Franco completa dois anos no próximo dia 14. “Fora Bolsonaro! Ele não, ela sim!. Nenhuma a menos!”, repetiam os presentes em coro, ecoando fala de uma representante do Cabaré Feminista em uma caixa de som.
Um coletivo formado por nove organizações religiosas entoava “quem é cristão não apoia a ditadura, Bolsonaro não é cristão coisa nenhuma” durante o ato. A deputada federal e pré-candidata à prefeitura de São Paulo, Sâmia Bonfim, foi uma das participantes do ato que, para ela, teve um novo significado. “Temos um presidente que materializa tudo o que lutamos contra – é machista, misógino e autoritário”, disse ela. Em São Paulo, o protesto envolveu mais de 80 entidades e o ato começou a ser organizado em janeiro já com o tema “Mulheres contra Bolsonaro”. Segundo líderes, a ênfase no nome do presidente se impôs por causa das ações contrárias a demandas históricas do movimento, como igualdade de gênero, combate à violência doméstica e descriminalização do aborto. “O Estado opressor é um macho violador”, bradaram centenas de mulheres em protesto no centro do Rio de Janeiro, ontem. O foco do ato foi o combate à violência sexual e a defesa da legalização do aborto. As manifestantes pediram mudanças na forma como o poder público lida com o estupro.
O protesto começou com a encenação da performance chilena “Um Estuprador no Teu Caminho”. As participantes ensaiaram ao lado do Museu do Amanhã a coreografia, que termina com todas de mãos cruzadas e elevadas. Flávia Prata, do movimento Corteja 8M, que reúne representantes de blocos do carnaval de rua carioca, afirmou: “A questão da violência sexual é para nós um ponto muito sensível em toda a luta feminista porque diz respeito ao controle sobre nossos próprios corpos”. Prata também criticou a proposta de criação de um auxílio para mulheres estupradas que optarem por não abortar. O projeto em tramitação no Congresso, que recebeu apoio da ministra Damares Alves, prevê a chamada “Bolsa Estupro”. Prata criticou: “A questão não é só financeira. Além do trauma, é um absurdo forçar a mulher a conviver com o violador”.