Nonato Guedes
Uma exposição fotográfica na Fundação Casa de José Américo de Almeida, aberta hoje e que se estende até o final do mês sob a curadoria do escritor Juca Pontes, recapitula 40 anos da morte do celebrado intelectual e líder político que projetou nacionalmente a Paraíba e deixou lições de seriedade e espírito público, além de ter se constituído em “uma voz contra a ditadura” do Estado Novo de Getúlio Vargas, refletida na entrevista concedida a Carlos Lacerda, publicada no jornal “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, em 22 de fevereiro de 1945. Na entrevista, o ilustre paraibano de Areia denunciou a crise ética e política do governo e rompeu, assim, com o silêncio imposto pela ditadura varguista.
José Américo havia sido traído por Getúlio Vargas quando em 1937 candidatou-se a presidente da República e foi surpreendido pelo golpe do Estado Novo que suspendeu as eleições. Reconciliou-se com Vargas em 1953 quando assumiu, mais uma vez, o Ministério da Viação e Obras Públicas. Governador da Paraíba e senador, José Américo notabilizou-se por debates no Legislativo sobre a problemática das secas no Nordeste, que fora objeto de livros publicados e da sua atenção como homem público. Foi, também, ministro do Tribunal de Contas da União. O romance “A Bagaceira” foi considerado um marco na propagação do regionalismo, influenciando decisivamente a cultura do país.
Em ensaio que consta da publicação “Paraíba na Literatura”, o professor Neroaldo Pontes, ex-reitor da Universidade Federal da Paraíba, definiu José Américo como “grande nas letras, grande na política”, observando não haver dicotomia entre o escritor consagrado e o homem público atuante que ele foi. “A sua erudição e a sua forma peculiar e incisiva de falar e de escrever são marcas fundamentais na sua atividade política. Essas duas paixões se entrelaçam e se completam ao longo da sua vida, uma alimentando a outra”. José Américo de Almeida nasceu no engenho Olho D’Agua, município de Areia, no brejo paraibano, no dia 10 de janeiro de 1887, onde aprendeu as primeiras letras. Considerada sua maior obra, A Bagaceira foi publicada em 1928, quando ele contava 41 anos de idade.
Para Neroaldo Pontes, embora se inscreva na tradição do romance regionalista, “A Bagaceira” operou uma ruptura no tratamento desse veio temático, iniciando, assim, o moderno romance regionalista. A ruptura estaria, na definição de Ângela Bezerra de Castro, no deslocamento da velha questão da miséria crônica do Nordeste do eixo fisiográfico para o social. “Desmistificando a seca, o romance paraibano encontra sua força de denúncia na ironia do contraste entre a natureza privilegiada do Brejo e a degradação humana”, analisou Ângela Bezerra de Castro. O narrador denunciava: “Tudo era vendido pela hora da morte. Só a virgindade se mercadejava a preço baixo”.
Chamado de “Solitário de Tambaú”, José Américo de Almeida, na definição do jornalista e escritor Severino Ramos, era detentor da solidão mais frequentada de que se tinha notícia na Paraíba. Intelectuais de renome, jornalistas consagrados, chefes militares, líderes políticos conhecidos, presidentes da República frequentavam sua residência na orla marítima, em busca de lições sobre os mais variados assuntos. Em 10 de dezembro de 1980, ano da sua morte, o então governador Tarcísio de Miranda Burity criou a Fundação Casa de José Américo, que teve o professor Milton Paiva como primeiro presidente. Hoje, a Fundação é dirigida pelo escritor e jornalista Fernando Moura.