Nonato Guedes
A condição imposta pelo prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, de que a candidatura à sua sucessão, apoiada por ele, tem que ser dos quadros do Partido Verde, é um convite ao fechamento de portas para aliança política no pleito de outubro, segundo reclamam líderes interessados em se compor com o esquema do atual alcaide. Cita-se como exemplo de postura diferenciada o caso de Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, onde o prefeito Romero Rodrigues, do PSD, não condiciona que a cabeça de chapa seja ocupada por um representante da legenda que preside. Pelo contrário, abre o leque para nomes de legendas que tenham afinidade consigo e com o projeto que vem sendo executado há mais de sete anos. Isto quer dizer que na Rainha da Borborema o PSDB do ex-senador Cássio Cunha Lima, presidido pelo seu filho, o deputado federal Pedro, tem a chance de colocar um nome na mesa para discussão pelo esquema.
A tese empalmada por Luciano Cartaxo, além de ser considerada “reducionista” por estreitar o corredor por onde podem trafegar postulações, é tida como manobra de descortesia para com outros partidos, que igualmente dispõem de nomes expressivos, talvez até com mais densidade eleitoral do que os que habitam o imaginário do gestor da Capital na constelação para sucedê-lo. Circula que o prefeito de João Pessoa já afunilou o leque de prováveis candidatos, situando em três os do seu grupo: os secretários Diego Tavares, Socorro Gadelha e Daniella Bandeira. Estas duas tiveram que se filiar às pressas ao PV para estarem disponibilizadas como opções na hora da onça beber água, embora a titular da Habitação, Socorro Gadelha, seja mencionada por alguns analistas políticos como portadora do “DNA” dos Ribeiro, por causa da sua ligação com o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do Partido Progressista.
A condicionante de filiação ao PV que Luciano defende de forma reiterada é encarada como um processo de sangria desatada que não sensibiliza outras agremiações. Se o propósito obstinado do prefeito, ao apagar das luzes do seu segundo mandato, é o de anabolizar o Partido Verde, trata-se de estratégia desinteressante aos olhos de expoentes de outros partidos, também empenhados em fortalecer suas siglas até como parte do planejamento tático que mira a disputa de cargos mais importantes em eleições estaduais e federais, previstas para 2022. A rigor, a meta de dotar o Partido Verde de capilaridade no número de filiados só está sendo urgenciada agora, pois não é do conhecimento da mídia qualquer ofensiva empreendida até então para engordar a legenda, quer em João Pessoa, quer em outros redutos do Estado.
Da parte do prefeito Luciano Cartaxo – que aparenta ser detentor de índices relevantes de aprovação popular na apreciação das duas gestões que está executando – a cantilena entoada de forma recorrente, uma vez passado o período eleitoral de 2018, passou a versar sobre a “prioridade com a administração municipal”, noves fora, portanto, a continuidade da discussão política, já aí focada na própria sucessão. Em 2018, Luciano articulou dentro do PV a candidatura do irmão gêmeo Lucélio a governador, aproveitando a brecha aberta com um impasse entre os chamados “aliados oposicionistas”, arco de que faziam parte o senador José Maranhão e o ex-senador Cássio Cunha Lima. Os nomes em pauta para disputar o governo estadual eram os de Luciano Cartaxo e Romero Rodrigues. A dinâmica política induziu Cartaxo e Romero a permanecerem nos respectivos cargos até o último dia de mandato. Como se houvesse um ensaio previamente combinado, deram à luz, por via de consequência, a uma chapa encabeçada por Lucélio, tendo como vice a doutora Micheline, mulher do administrador campinense. O pleito foi liquidado em primeiro turno por João Azevêdo (então PSB) com o apoio decisivo do ex-governador Ricardo Coutinho. Maranhão saiu candidato em faixa própria, sem grande repercussão.
O jogo, agora, é outro. E na Capital Luciano vinha se preparando para enfrentar os esquemas do ex-governador Ricardo Coutinho (com a possibilidade dele próprio ser candidato a prefeito) e do governador João Azevêdo, teoricamente rompido ou desalinhado com o “ex”. Mas o quadro ficou embaralhado com o impasse sobre a candidatura de Ricardo, face a problemas judiciais gravíssimos que enfrenta, e a ameaça de Azevêdo, pilotando o “Cidadania”, de entrar no páreo com um candidato cujo rosto ainda não é decifrado nos meios políticos. Com a demora em definir candidatura de sua preferência e a imposição de que “ela” seja do PV, Luciano inquieta partidos que poderiam juntar-se a ele como o PSDB e PP. Vai ver, o prefeito tem uma poderosa carta na manga – e os analistas nem suspeitam, muito menos raposas políticas que dirigem os demais partidos. A conferir, então!