Nonato Guedes
Anunciada para a sexta-feira, 13 (amanhã), a partir do meio dia, na rádio Sanhauá a entrevista do ex-governador Ricardo Coutinho ao radialista Antônio Malvino e equipe agita, desde agora, os meios políticos do Estado, não só por significar uma quebra de silêncio da parte do socialista como pelo teor de revelações candentes que ele possa vir a fazer. Ricardo, atualmente, está cumprindo medidas cautelares aplicadas pelo Superior Tribunal de Justiça e, na Paraíba, no âmbito do TJ, pelo desembargador Ricardo Vital, relator da Operação Calvário, a exemplo do uso de tornozoleira eletrônica. Ele é mencionado em diversos depoimentos que contêm versões sobre desvio de verbas da Saúde e da Educação no Estado, no período em que foi gestor.
Nas informações prestadas em depoimentos formais e em delações premiadas por ex-secretários de Estado, operadores da Cruz Vermelha Brasileira e outros agentes públicos, Coutinho é descrito à frente da condução de articulações sobre desvio de verbas e pagamento de propinas a autoridades e políticos. Livânia Farias, que foi secretária de Administração e Finanças e tornou-se pessoa de extrema confiança de Ricardo na administração paraibana, relatou em minúcias reuniões de que participou para trato de repasse de dinheiro público. O inquérito que se encontra em andamento já abarca denúncia feita pelo Ministério Público do Estado sobre a atuação de uma “organização criminosa” que atuava de forma articulada com organizações sociais, tipo Cruz Vermelha, contratadas para gerir hospitais e estabelecimentos de ensino da rede pública.
Parte dos recursos desviados foi utilizada, conforme os processos em tramitação, no custeio de campanhas eleitorais recentes para disputas majoritárias no Estado, com vistas a favorecer o esquema político liderado por Ricardo Coutinho. Até o final de 2018, Ricardo era aliado do atual governador João Azevêdo (Cidadania), mas os dois romperam em meio ao desapontamento de Ricardo com atos administrativos tomados pelo sucessor. O pano de fundo do rompimento foi, também, a dissolução do antigo diretório estadual do PSB, presidido por Edvaldo Rosas, secretário de Governo de João Azevêdo. A operação de destituição do diretório foi comandada diretamente por Coutinho e teve o aval da direção nacional do PSB, o que levou o governador João Azevêdo a queixar-se de não ter sido consultado a respeito da questão política e, na sequência, a desfiliar-se do PSB, oficializando, tempos depois, o seu ingresso no Cidadania, presidido na Paraíba por Ronaldo Guerra, interlocutor de sua confiança, e na Capital pelo vereador Bruno Farias.
Ricardo Coutinho chegou a ser preso em pelo menos uma oportunidade, em 2019, quando desembarcou em Natal, Rio Grande do Norte, procedente de Portugal, última etapa de uma viagem pelo exterior. Ele foi submetido a uma audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Estado e conseguiu junto a um ministro plantonista do STJ habeas corpus para responder ao processo em liberdade. Somente há poucos dias foram adotadas medidas restritivas, incluindo o uso da tornozoleira eletrônica. A nova prisão do ex-governador e de outros implicados na Operação Calvário está sendo novamente requerida pelo Ministério Público. Em meio a tudo isso, o líder socialista tem mantido silêncio. Num primeiro instante, ainda valeu-se de redes sociais para questionar a legitimidade de atos desencadeados no bojo da Operação Calvário e declarar-se inocente. As acusações se avolumaram, mas Coutinho optou pela estratégia de não mais se manifestar, só o fazendo, superficialmente, através de advogados de defesa. A entrevista na rádio Sanhauá pode vir a causar sensação se ele, realmente, abrir o jogo acerca de todo o enredo do tumultuado processo de investigação – inédito na história administrativa da Paraíba.