Nonato Guedes
O ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) garantiu hoje que não lhe passa pela cabeça a ideia de ser candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições de outubro mas acrescentou, em tom enfático: “Vou ser ativo para livrar João Pessoa das mãos de gente terrível que só quer fazer negócios com a prefeitura”. O socialista, que responde em liberdade, mas com o uso de tornozeleira eletrônica, a acusações de desvio de verbas públicas formuladas no âmbito da Operação Calvário, quebrou o silêncio numa entrevista concedida ao programa “Debate Sem Censura”, comandado por Antônio Malvino, na rádio Sanhauá AM. Ele cobrou, insistentemente, provas concretas das acusações de que teria desviado verbas da Saúde e Educação em conluio com organizações sociais contratadas em seu governo, a exemplo da Cruz Vermelha Brasileira.
Chamou de “traidor” o governador João Azevêdo (Cidadania) a quem apoiou na campanha eleitoral de 2018, contribuindo para a sua vitória em primeiro turno e se considerou vítima de perseguição, asseverando que contrariou interesses de muitas pessoas. Ele “alvejou” delatores que prestaram depoimento como Daniel Gomes, operador da Cruz Vermelha, desmentindo versões dele de que teria patrocinado viagem sua ao Rio para assistir ao “Rock in Rio”, além de ter bancado hospedagem sua em Búzios e custeado despesas durante o Carnaval carioca. Coutinho salientou que todas essas insinuações constituem “calúnias sem provas” e queixou-se que elas sejam levadas em conta, por entender que “não é assim que funciona o Estado de Direito”.
Ricardo, que foi eleito prefeito de João Pessoa em 2004 e 2008, enfatizou que a Capital não pode continuar dependendo basicamente de emendas parlamentares para a manutenção de políticas de interesse público e de ampla repercussão social. Avisou que se empenhará para a construção de uma “alternativa” a modelos administrativos que, no seu ponto de vista, não se coadunam com o perfil das aspirações da população de João Pessoa. Na entrevista, Coutinho se fez acompanhar por Giucélia Figueiredo, presidente do diretório municipal do PT em João Pessoa. O programa recebeu telefonemas de solidariedade a Ricardo por parte de petistas como o deputado federal Frei Anastácio Ribeiro, que se encontra na cidade de Cajazeiras, no Sertão. O ex-governador elogiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “maior estadista do Brasil”, que “orgulha até quem não gosta dele” e criticou duramente o governo do presidente Jair Bolsonaro que, a seu ver, envergonha o país nos fóruns internacionais.
Na entrevista, Ricardo disparou sua “metralhadora giratória” contra diferentes alvos, incluindo jornalistas e outros profissionais de imprensa que o criticam, supostamente por não terem recebido dinheiro a título de extorsão no período em que RC foi governador do Estado. Ele fez questão de deixar claro que tem sérias restrições ao estilo e à conduta do governador João Azevêdo e de declinar que de sua parte não fica “em cima do muro”. O seu posicionamento, conforme explicitou, é alinhado às forças democráticas e populares do país. Ricardo Coutinho fez um alerta aos que o acusam “sem provas” de que, hoje, os tribunais superiores estão atentos ao cumprimento do rito legal para denunciação de pessoas. Esse rito – alegou – passa pela apuração de provas concretas e instauração de processos regulares com garantia do mais amplo direito de defesa. Não é, conforme o ex-governador, o rito ambicionado por certas figuras, baseado em julgamento sumário sem colheita de provas substanciais contra quem quer que seja.
Na entrevista – que, segundo o radialista Antônio Malvino, bateu recordes de audiência em todo o Estado da Paraíba – Ricardo tratou como “desvarios” as acusações assacadas contra ele, e, sobre as delações, ironizou: “Quem está preso faz qualquer coisa para sair”. E, em tom desafiador: “Não concordamos com convicções substituindo provas. Quero saber onde estão as provas disso, quero saber onde está o dinheiro. Não enterrei dinheiro nenhum. Aliás, não enterrei nem macaxeira”. O ex-governador sinalizou que não é o primeiro nem será o único a ser alvo do que chamou de “doença” que tomou conta do Estado brasileiro nos últimos anos, referindo-se ao “denuncismo”. E frisou mais: “Fizemos com que o dinheiro do povo, que não aparecia antes, aparecesse em obras, ações e serviços. O que o Ministério Público tenta, de uma forma inconsistente, caracterizar como organização criminosa se refere a apenas dois contratos com organizações sociais. Não existe superfaturamento”. Ricardo concluiu dizendo-se absolutamente tranquilo em relação às variadas acusações que circulam contra ele.