Nonato Guedes
Entrevistada da revista “Veja” nas páginas amarelas da nova edição, a ministra Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, diz que virou “a ministra pop”, reclama que as feministas não a apoiam quando é atacada e descarta a hipótese de ser candidata a vice-presidente da República numa chapa encabeçada por Jair Bolsonaro à reeleição. “Vice-Presidência? Pelo amor de Deus. Já viu as cortinas do (Palácio) do Jaburu? Eu quero é namorar”, reagiu Damares, advogada, pastora evangélica, 56 anos, que coleciona polêmicas desde que passou afazer parte do primeiro escalão do governo federal.
Damares é mãe de uma jovem indígena de 21 anos, divorciada mas avessa à ideia de permanecer no celibato. Cercada de seguranças (alega que continua recebendo ameaças), ela explicou: “Expuseram meu endereço nas redes sociais e começaram a chegar cartas, a ter pessoas na portaria me esperando. Os moradores do meu condomínio acharam que isso deixava as demais pessoas em risco. Eu me mudei, mas as ameaças barras-pesadas continuam, inclusive de morte”. Damares comentou a questão da vice-presidência ao ser indagada se aceitaria figurar na chapa se o presidente Bolsonaro fizesse tal pedido. “Eu provo que sou melhor em cima de um trio elétrico, pedindo voto para ele, do que saindo como vice. E depois que ele for reeleito, porque vai ser reeleito, se ele me quiser, vou para o palácio para auxiliá-lo”.
Indagada se está namorando, Damares respondeu de bate-pronto: “Quem namora com cinco seguranças atrás, minha filha? Funciona assim: em qualquer lugar que eu vá, eles fazem uma varredura para ver se não corro riscos. Já pensou eu num jantar romântico e eles vigiando a mesa?”. A ministra evitou julgar Bolsonaro pelos ataques de cunho sexual que ele tem feito a mulheres. À revista, Damares chamou Bolsonaro de “meu presidente” e afirmou que desde a Câmara dos Deputados ele era “o homem mais amado pelas assessoras por causa de seu comportamento gentil”. O presidente, segundo confessou, chega a lhe acordar de madrugada preocupado com o feminicídio. “Mas temos uma imprensa cruel que finge que não compreende, que precisa ficar batendo no presidente”, acrescentou. No gabinete, enfeitado de bonecas multirraciais, há uma ilustração da ministra, ainda na infância, no alto da já célebre goiabeira onde teria avistado Jesus Cristo – narram as repórteres Laryssa Borges e Maria Clara Vieira.
A ministra reclama que a esquerda se apropriou de pautas dos direitos humanos. “A esquerda se apresenta como mãe e pai dos direitos humanos, que na verdade são de todos. Em governos anteriores, só se pensava em LGBT, índios, negros e presos. Quem não tinha afinidade com essa pauta acabava não participando da luta. A corrupção, aliás, é a maior violação dos direitos humanos na história do Brasil. Os algozes têm nome, sobrenome e CPF. Alguns não têm dedo”, enfatizou. Damares, enfim, declara: “A diferença fundamental entre mim e os movimentos feministas é que eu lido com as coisas falando de solidariedade, de amor. Sem a raiva, sem o ódio, sem o cabelo no sovaco”.