Nonato Guedes
O ex-governador Ricardo Coutinho pode até não ser candidato a prefeito de João Pessoa este ano, por óbices legais, embora “ricardistas” fanáticos acreditem que ele terá brecha para disputar o páreo com chances de vitória, driblando dispositivos da Lei da Ficha Limpa. Mas Ricardo, em face da legislação, está logrando manter ex-aliados de batalhas políticas como “reféns” no que se chama de “jiqui” (espécie de cercado) partidário, precisamente dentro do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que ele controla com mão de ferro. O deputado Hervázio Bezerra já confessou, por exemplo, que é “inelegível” para a eleição municipal de outubro em João Pessoa porque continua filiado ao PSB e, certamente, não terá legenda para concorrer.
Hervázio, que foi líder operante do governo Ricardo Coutinho, atuando de forma decisiva para a aprovação de matérias polêmicas que o Executivo buscava empurrar goela abaixo dos parlamentares, não ficou em cima do muro por ocasião da briga entre Ricardo e o sucessor João Azevêdo. Tomou posição pelo alinhamento com Azevêdo, que o chamou para ocupar a secretaria de Esporte e Lazer, da qual está se afastando para retornar ao Legislativo. O atual governador deixou o PSB e assinou filiação no “Cidadania”, passando a ser o principal líder. Mas, temendo represálias de Ricardo, com ameaça de perda do mandato, Bezerra permanece nas hostes socialistas, embora não seja ouvido nem cheirado para nada.
A mesma situação acontece com parlamentares que se declararam a favor de João Azevêdo no cenário maniqueísta estabelecido entre ele e o antecessor, como o presidente da Assembleia, Adriano Galdino (que não obstante mantém a postura de independência inerente ao cargo), a deputada Pollyana Dutra e o deputado Ricardo Barbosa, que é líder da atual administração. Qualquer um desses que se anunciasse candidato a prefeito nos respectivos redutos onde atuam, no pleito vindouro, esbarraria no veto da cúpula socialista monitorada pela tornozoleira diretiva de Coutinho, que comanda a agremiação de forma soberana depois de conseguir expurgar o governador João Azevêdo e seus aliados, além de destituir o outrora presidente do diretório estadual socialista, Edvaldo Rosas, vítima de uma operação “manu militari” capitaneada por Ricardo com o pronto aval da cúpula nacional do PSB, presidida por Carlos Siqueira.
Fontes políticas ligadas a Ricardo não escondem: manter políticos hoje liderados por Azevêdo dentro do PSB, obstaculando-lhes os passos, é sua grande vingança desde que ficou isolado com a eclosão de denúncias da Operação Calvário, relacionadas a desvio de recursos públicos da Saúde e Educação e recebimento de propinas, fatos detectados pelo Ministério Público e seu braço-forte, o Gaeco. Mas os opositores de Coutinho lembram que “o que dá para rir, dá para chorar”. E advertem que não há garantia de que o ex-governador seja o dono das “cartas” no prélio municipal de outubro, apesar de aparentemente conservar prestígio entre camadas do eleitorado. Esses opositores avaliam dois fatores: 1) a imagem de Ricardo ficou irreversivelmente danificada; 2) não é ele que dita as leis no País. “Fatos novos, emergenciais, com que ele nem sonha, podem eclodir em pleno andamento do jogo eleitoral”, alertou um deputado estadual em contato com a reportagem, evitando entrar em detalhes.