Nonato Guedes
O poeta e governador Ronaldo Cunha Lima, que morreu a sete de julho de 2012 em João Pessoa, completaria, hoje, 84 anos de idade. Nascido em Guarabira a 18 de março de 1936, foi a partir de Campina Grande que empreendeu trajetória política vitoriosa, dinâmica e marcante, de vereador a prefeito, deputado estadual, federal, senador, governador. Em “Eu nas Entrelinhas – Extratos e Retratos de Minha Vida”, Ronaldo glosa: “Um dia, eu fui eleito/prefeito de meu quintal/De barro cru fiz casinha, das calçadas fiz a linha, fiz colégio e hospital/pensando que, quando grande/ia fazer tudo igual”. Fez casas, colégios, hospitais. E marcos como a reabertura do Paraiban, o banco estadual, que havia fechado mediante liquidação extrajudicial ocorrida no governo do antecessor, TarcisioBurity, e decretada pelo fugaz governo do presidente Fernando Collor (alvo de impeachment em 92).
Jornaleiro foi seu primeiro emprego. Mas ele também foi escrevente, garçom, agrimensor, professor, advogado, radialista. Seguramente foi um dos mais carismáticos líderes políticos da história do Estado, com uma facilidade incrível de comunicação com o eleitor. Eleito prefeito de Campina Grande em 1968, tomou posse e permaneceu apenas 43 dias no cargo, sendo cassado por Ato Institucional da ditadura militar, contra a qual se posicionara. Sobreviveu no Rio de Janeiro apresentando-se em programas de auditório de televisão, onde foi aplaudido por dissertar em versos sobre a biografia do poeta paraibano Augusto dos Anjos, um universalista. Esperou, com paciência estoica, a oportunidade de voltar à militância política, da qual sentia banzo. E isto aconteceu de forma consagradora, com sua eleição novamente a prefeito da cidade Rainha da Borborema em 1982. O mandato foi de seis anos, face a dispositivo que, no Congresso, prorrogou por dois anos as gestões iniciadas naquele período.
Ronaldo elegeu-se governador do Estado em 26 de novembro de 1990, em segundo turno, derrotando o principal adversário Wilson Leite Braga, líder popular protagonista de embates memoráveis. O resultado foi o coroamento da biografia de um político bom de urna que jamais perdera uma eleição. Ronaldo obteve 130 mil votos de maioria, apoiado por uma coligação de forças nascido no interior do PMDB, partido a que era filiado, e teve como vice o empresário Cícero Lucena, então neófito na disputa de cargos eletivos, sendo conhecido, apenas, pela sua participação em bastidores de campanhas cujo comandante maior era o senador Humberto Lucena. Os momentos mais difíceis da peleja de 1990 ocorreram no primeiro turno, decidido a três de outubro – até essa data, Ronaldo se disse vítima de manipulação de pesquisas, provocações de adversários, enfrentando outros fatores que o puseram em desvantagem. O apoio recebido no segundo turno do ex-candidato João Agripino Neto (PRN) foi fundamental para o triunfo de Ronaldo sobre Braga.
Como registrei, no capítulo sobre ele, nas páginas do livro “A Fala do Poder – Perfis e discursos comentados de governadores da Paraíba”, desde 1982 Ronaldo se preparava para dirigir os os destinos da Paraíba, mas teve que ceder a vaga a nomes como Antônio Mariz e Tarcísio Burity, oriundos d dissidências políticas da Arena-PDS. No pleito que, afinal, o conduziu ao Palácio da Redenção, ele se fez obstinado, de que foi exemplo a construção poética sobre seus passos assim resumida: “Em 82, ficou pra depois; em 86 não foi a minha vez; em 90, ninguém me sustenta”. O confronto contra Wilson Braga prenunciava-se acirrado. Mas Braga, que viveu sua consagração nas urnas em 1982 derrotando Antônio Mariz, já colecionava focos de desgaste, tendo perdido em 86 uma disputa ao Senado que teoricamente parecia “favas contadas” em seu favor. Ainda assim, Wilson mostrou-se um rival competitivo em 90, um osso duro de roer, quer por instrumentos disponibilizados por máquinas em prol dele, quer pelo prestígio de que ainda desfrutava em camadas proeminentes da população paraibana.
Na condição de postulante ao governo, Cunha Lima empolgou o eleitorado com uma mensagem de renovação que passava pela mudança das estruturas, por um novo figurino de atuação política e pelo fim da ”gangorra” entre Tarcísio Burity e Wilson Braga no comando do poder estadual. “Um sobe e outro desce, enquanto a Paraíba padece”, ironizava Ronaldo José da Cunha Lima. Tinha 54 anos por ocasião da pregação que o entronizou no poder. Ronaldo chegou a ser cogitado para candidato a vice-presidente da República numa chapa encabeçada por Orestes Quércia, que acabou não prosperando. Logrou o feito de ver o filho, Cássio Cunha Lima, eleito governador – o que se deu em duas oportunidades. Ninguém melhor do que o próprio Ronaldo para se definir: “Minha vida política imita os rios. Vai vencendo, um por um, os desafios, ao longo de seu longo corredor. Começar vereador foi a nascente, que desaguou, depois, com uma enchente, num mar de votos pra Governador”. Foi isso!