Nonato Guedes, com agências
Um novo panelaço contra o presidente Jair Bolsonaro ganhou força em diversas Capitais e cidades brasileiras, ontem, enquanto o governo dava sinais de estar acuado no combate à pandemia do novo coronavírus e enfrentamento à crise econômica que se agrava no país. O escritor Olavo de Carvalho, considerado o guru da família Bolsonaro, criticou o presidente ontem à noite no Facebook, escrevendo: “Desde o início do seu mandato, aconselhei ao presidente que desarmasse os seus inimigos antes de tentar resolver qualquer problema nacional. Ele fez exatamente o oposto”.
Segundo Olavo, Bolsonaro “deu ouvidos a generais isentistas, dando tempo a que os inimigos se fortalecessem enquanto ele se desgastava em lacrações teatrais. Lamento. Agora talvez seja tarde para reagir”. Esta é a impressão dominante entre aliados do presidente da República no Congresso Nacional, instituição que tem sido atacada pelo mandatário e que tem reagido apelando para o “equilibrismo” para não dar pretexto a confrontos insensatos, conforme a orientação dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, ambos do DEM. Mais cedo, Bolsonaro reafirmou algumas ideias do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Teremos dias duros, mas serão menos difíceis se cada um se preocupar com seus parentes”, narrou.
À noite, em pronunciamento no Palácio do Planalto para falar do novo coronavírus, em que apareceu usando máscaras, juntamente com ministros, o presidente fez uma série de acenos ao Legislativo e ao Judiciário para tentar mostrar “harmonia” entre os poderes. “Nossa união é que dará o norte que o Brasil precisa”, enfatizou o presidente. Nas redes sociais, enquanto isso, multiplicam-se manifestações de hostilidade a Bolsonaro. Em São Paulo, houve registros de fogos de artifício, buzinaço de motoristas, acender e apagar de luzes e projeções de imagens e frases contra o presidente em prédios. Deputados do PSOL, entre eles David Miranda (RJ), Samia Bomfim (SP) e Fernanda Melchionna (RS) protocolaram na Câmara, ontem, pedido de impeachment contra o presidente da República.
A ação pró-impeachment foi divulgada nas redes sociais e contou com o apoio de diversos intelectuais, como a socióloga Adriana ErthalAbdenur, a advogada e professora de Direito Constitucional da UnB Débora Diniz e a antropóloga e professora de Desenvolvimento Internacional Rosana Pinheiro Machado. A alegação principal que norteia o pedido de impeachment é a de que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao convocar atos que pediam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. No documento, os deputados assinalam que “não obstante a importância e a natureza do cargo, não foi capaz de imprimir ao senhor Jair Messias Bolsonaro o espírito democrático, de acordo com o decoro, a honra e a dignidade do cargo”.