Tem alcançado grande repercussão nas redes sociais o depoimento-advertência da pneumologista Maria Enedina Claudino Aquino Scuarcialupi, presidente da Sociedade Paraibana de Tisiologia e Pneumologia, de que médicos e autoridades perderam o controle em relação à disseminação do novo coronavírus no Estado, o que ocasiona a ocorrência de subdiagnósticos em torno de eventuais casos detectados ou suspeitos. A doutora Enedina falou sobre a dificuldade que muitos pacientes estão encontrando para fazer o teste para a Covid-19.
Segundo a especialista, a Secretaria de Saúde do Estado precisa liberar o teste para que a partir dos resultados surjam novas condutas ou novos procedimentos. “É fundamental termos em mãos o diagnóstico para identificarmos onde está o vírus”, alertou Enedina. Mesmo que haja transmissão comunitária, se há um estudante infectado vai levar para casa, para o pai, a mãe, e o exame vai fazer com que os profissionais adotem outras medidas adequadas, prosseguiu. E, taxativa: “Ninguém conhece o vírus e, muito menos, seu comportamento. Por isso, tentamos ir na frente dele, prevenir. O vírus já mudou o perfil, o tempo de incubação. Tem crianças morrendo fora do Brasil e nem todas são saudáveis. Tem criança com asma, leucemia…”
A médica queixou-se que a Secretaria de Estado da Saúde ficou “enrolando”, até ontem, na resposta a informações solicitadas sobre a verdadeira situação do novo coronavírus na Paraíba. “Nosso papel não é só medicina curativa, mas preventiva e de orientação. Somos pneumologistas e lidamos com doenças respiratórias, casos com queixas, epidemiologias e exames de imagens alterados. Não estamos enchendo com pacientes que vieram de viagens e enchendo para fazer exames. O Ministério da Saúde só autoriza coletarem pacientes que fizeram viagem internacional,. Isso é ultrapassado e recebi um comunicado desde domingo que é para coletar de quem vem de São Paulo, Rio de Janeiro. Os médicos estão todos preocupados mas segundo as autoridades não há liberação para coletar os exames e isto é um risco a mais”, revelou Enedina.
A Fundação Oswaldo Cruz forneceu 30 mil kits ao Ministério da Saúde. Dentro de um mês serão mais 150 mil kits, de acordo com a pneumologista, e a falta do material para realização do teste é um dos problemas. “Posso afirmar que os tomógrafos do Hospital Universitário Lauro Wanderley e do Clementino Fraga estão quebrados.Fiquei assustada e tive que me pronunciar, porque o discurso de que tem milhões de verbas, que temos 590 respiradores, não me convence. A gente nem sabe se esse número seria suficiente. De repente, a coisa pode desandar”. Para Maria Enedina, o caminho é acionar os laboratórios. Ela suspeita da ocorrência de desvio de verbas na Saúde e lembra que, na situação atual, pode ser invocada a urgência com dispensa de licitação para aquisição de materiais. E arrematou: “A Agência Nacional de Saúde (Anvisa) é um órgão sério que precisa ser respeitado, mas estamos numa situação de crise. Excepcionalmente, o laboratório Roche poderia fornecer para evitar que se tome uma proporção maior”.