Nonato Guedes
O Aliança pelo Brasil, partido idealizado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, não se constituirá legalmente a tempo de concorrer às eleições municipais para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores no país, especialmente em Capitais de Estados influentes do PIB nacional. Como se previa, dificuldades operacionais inviabilizam a legalização do Aliança – e há indícios de que a agremiação patina nas ruas na falta de apoio de aliados. Na Paraíba, por enquanto, o partido do presidente não deu as caras em termos de comando efetivo, muito menos de estratégia de filiações que possibilitem o fortalecimento de quadros que venham a ser competitivos no futuro.
Para falar a verdade, não há muito interesse ou qualquer entusiasmo nos meios políticos pela missão de estruturar a legenda, e por uma razão simples: embora seja a legenda do presidente, não oferece perspectiva imediata de poder, no que concerne, por exemplo, às eleições municipais. De resto, há aliados políticos de Bolsonaro que estão “muito bem, obrigado” em outros partidos com mais tradição, já testados nas urnas, que não são encarados como “aventureiros”. Este é o caso do PSD, que tem como estrela de grandeza o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, com linha direta junto ao Palácio do Planalto e ao gabinete do capitão. Romero não precisa assinar ficha no Aliança para ser bem tratado em Brasília, muito menos para tentar vencer a eleição à sua sucessão. Só lembrando: Bolsonaro foi a Campina Grande inaugurar um conjunto habitacional e tratou tanto Rodrigues quanto o ex-senador Cássio Cunha Lima como aliados, mesmo sem serem do Aliança. (Cássio é do PSDB).
Informa o colunista Leandro Mazzini, titular de “Esplanada”, que na Paraíba é reproduzida pelo jornal “Correio”, que em Alagoas apenas 75 assinaturas do “Aliança” foram validadas pela Justiça. O Amazonas avançou – com 605, por ora, muito mais do que o número tímido de São Paulo, com 209. O Estado do Rio conta com 155 filiações. A liderança é do Rio Grande do Sul, com 1.484 apoiadores registrados, seguido por Santa Catarina, com 1.460, Distrito Federal, com 1.448, e Minas Gerais, com 742. No total, até agora, conforme dados colhidos junto ao Tribunal Superior Eleitoral, foram notificadas 8.677 assinaturas – das 494 mil, no mínimo, necessárias para a oficialização definitiva da legalização.
Uma versão disseminada por apoiadores do presidente Bolsonaro dá conta de que a pandemia do coronavírus dificultou mais ainda o trabalho de abordagem e coleta de assinaturas na praça. Em pelo menos 14 das 27 unidades da Federação não há uma assinatura sequer apresentada, como no Acre, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso, entre outros. A despeito da difícil operação de coleta, os bolsonaristas têm certeza de que até 2022 o Aliança pelo Brasil estará apto para o presidente Jair Bolsonaro disputar a reeleição. A disputa presidencial de 2022 é, de fato, o que interessa diretamente ao capitão e aos seus apoiadores. As eleições municipais de agora não são tidas como plebiscitárias para o governo federal, porque envolvem interesses locais. Além do mais, o Planalto montou a tática de apoiar candidatos aliados em partidos diferentes, de modo a não ser considerado derrotado no balanceamento geral dos votos de 2020.
Os políticos, que Bolsonaro quase nunca valoriza, embora os corteje em períodos de votação de matérias importantes no âmbito do Congresso Nacional, são pragmáticos o bastante para se acertar e se entender a respeito das eleições municipais deste ano sem precisar de qualquer intervenção do Palácio do Planalto. Não se chega a cogitar, até agora, sequer a importância da presença do presidente da República em palanques, sobretudo naqueles mais radicalizados e, por óbvio, situados em Capitais e grandes centros urbanos do país. O histórico de disputas municipais, aliás, prevê em inúmeras localidades o fechamento de alianças aparentemente esdrúxulas, que não guardam qualquer coerência política-ideológica, muito menos similitude de princípios.E, no entanto, são admissíveis tais composições em nome da dinâmica do processo político, que vê o poder, não as legendas.
A ideia de tornar o Aliança uma nova opção no quadro partidário-institucional brasileiro foi mentalizada pelo presidente Jair Bolsonaro desde o episódio da sua desfiliação dos quadros do PSL, partido pelo qual se elegeu em 2018, derrotando Fernando Haddad, do PT, mas ao qual o mandatário não se adaptou, sem falar que acumulou problemas que o desgastaram ética e moralmente em fatos relacionados a recursos do Fundo Partidário e acontecimentos como “candidaturas laranjas”. Bolsonaro, a exemplo de Collor e Jânio Quadros, não dá importância a partido político. Vale-se do partido como instrumento para a chegada ao poder. Pode até ser que o Aliança surpreenda em termos de duração ou longevidade. Se isto ocorrer, não se deverá necessariamente a Bolsonaro, mas ao empenho dos que nele permanecerem, carregando pedras para forjar uma nova agremiação na paisagem política nacional.