Nonato Guedes, com agências
Pesquisa divulgada pelo Datafolha mostra que a avaliação do presidente Jair Bolsonaro na gestão da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus no Brasil é considerada muito pior que a de governadores de Estados e do próprio ministério. O presidente atua bem contra a pandemia para 35%, enquanto gestores estaduais têm aprovação de 54% e o Ministério da Saúde é bem avaliado por 55%. Para o articulista Josias de Souza, do UOL, a aprovação de 55% atribuída ao Ministério conduzido por Luiz Henrique Mandetta (DEM) “mostra que Bolsonaro já não consegue lucrar nem com o pedaço do seu governo que dá dividendos”.
O presidente se desgastou com declarações consideradas inadequadas, desdenhando da gravidade do novo coronavírus, que chamou de “gripezinha”. Deu mau exemplo, segundo os analistas, ao desrespeitar normas de prevenção ditadas pelo seu próprio Ministério da Saúde, abraçando populares e tendo contato com pessoas incluídas no chamado grupo de risco dos alvos da pandemia. Ao tentar retirar o protagonismo do ministro Mandetta, o presidente acabou contribuindo para que fossem retardadas providências de enfrentamento ao Covid-19. Diferentemente dele, governadores lançaram mão de recursos próprios e de parcerias com instituições representativas da sociedade para a ampliação de leitos hospitalares e postos de atendimento, sem falar nas medidas restritivas destinadas a impedir o alastramento da contaminação.
A postura dos governadores irritou o presidente, que bateu boca, publicamente, com dois deles – João Doria, de São Paulo, e Wilson Witzel, do Estado do Rio, além de se atritar com governadores do Nordeste, mais uma vez, por iniciativas autonomistas que eles tomaram a exemplo de contatos diretos com o governo da China para aquisição de materiais e outros equipamentos indispensáveis. Josias de Souza analisa: “Até Donald Trump, o populista predileto do Planalto, já evoluiu da fase de negação para o estágio da ação. Mas Bolsonaro atou-se à tese da marolinha sanitária. Bolsonaro segue uma lógica palanqueira. Antevendo a ruína econômica que está por vir, ele chama os governadores de exterminadores de empregos. Pela lógica, a crise seria mais bem administrada se presidente e governadores jantassem juntos. Mas Bolsonaro, Witzel e Doria preferem jantar uns aos outros. Apequenando-se, o presidente inflou os rivais, sobretudo Doria. A conjuntura exala uma insuportável nhaca de 2022. Quando vírus e palanque andam juntos, chega-se a uma infecção da conjuntura política, não à solução do problema”.