Nonato Guedes
Mais do que nunca, com o advento da crise do novo coronavírus, o mundo ressente-se de um líder como Rudolph Giuliani, que exerceu um papel histórico como prefeito de Nova York (EUA) por ocasião dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 no World Trade Center, que deixaram marcas visíveis ainda hoje nas sociedades de todo o mundo. Ele se destacou, também, pelo corajoso combate à criminalidade, que foi “calcanhar de Aquiles” do progresso da Big Apple.Contou Giuliani em livro autobiográfico que o espírito de liderança não nasce por acaso, mas é forjado por uma série de fatores e circunstâncias. Quando os ataques de 11 de Setembro atraíram os holofotes para Giuliani, ele estava a poucos meses do fim do seu mandato como um dos gestores mais eficazes de Nova York em todos os tempos. Herdara uma cidade devastada pelo crime e avariada na sua capacidade de servir aos cidadãos. Giuliani soube administrar o caos porque captou, em torno de sua personalidade, exemplos e lições cativantes, de várias fontes de inspiração.
O livro “O Líder” traz relatos de Giuliani sobre como as lições de boxe do pai o ensinaram a manter-se calmo nos momentos mais difíceis e incutiram-lhe a necessidade de resistir aos fanfarrões; como os conselhos da mãe professora o impregnaram desde cedo com o amor pela leitura e infundiram-lhe a determinação para aprender novos assuntos, em vez de apenas confiar na palavra dos especialistas; como sua luta recente contra o câncer de próstata, exigindo decisões rápidas no momento adequado, com as informações certas, influenciaram todo o seu processo decisório em escala mais ampla. No dizer do mais famoso prefeito da Big Apple, a liderança funciona nos dois sentidos: é um privilégio, mas também uma enorme responsabilidade.
A responsabilidade de um líder implica, por exemplo, em desenvolver a estrutura adequada aos objetivos da organização, formar equipes que reforcem o melhor de cada membro e assumir os riscos certos e inesperados. Assim sendo, o líder deve desenvolver fortes crenças, expressar essas convicções e agir com base nelas, além de sempre prestar contas dos resultados. Rudolph tinha registradas no currículo duas passagens pelo Departamento de Justiça do governo dos EUA e durante dois períodos como procurador geral da Nação. Aprendeu que são muitas as maneiras de exercer a liderança – alguns, como Franklin Roosevelt, inspiram o público com discursos instigadores. Outros, como Joe Di Maggio, conduzem os liderados por meio de exemplos. “Winston Churchill e Douglas McArthur eram dotados de coragem extraordinária e de oratória arrebatadora. Ronald Reagan liderava com base na força e na coerência do seu caráter – seguiam-no por acreditarem nele.Em última instância, não se sabe de antemão que técnicas e abordagens utilizar – as próprias pessoas que se pretende liderar darão as indicações. Boa parte da capacidade de conseguir que os liderados ajam como devem agir depende do que percebem ao observarem e ouvirem o líder. Precisam ver alguém mais forte do que si próprios, mas também um ser humano”, afirma Rudolph.
Para o mais famoso prefeito de Nova York, “os líderes precisam conter suas emoções sob pressão”. Narra que quando era prefeito, nas poucas ocasiões e quem alguém que trabalhava para ele usou a expressão “pânico” para descrever seu estado de espírito durante alguma crise em suas áreas de atuação, ele deixava claro que aquela era a última vez em que toleraria esse termo. Queria que fosse válida a atitude “preocupado”, e explica: “Se por acaso o excesso de zelo nos deixava mais preocupados do que o necessário, tal situação era aceitável mas não o pânico”. E acrescenta: “Não se pode deixar paralisar por qualquer situação. Trata-se de uma questão de equilíbrio”. Rudolph colocou em prática a ideia de “reinventar o governo”, encontrada num livro homônimo de David Osborne e Ted Gaebler e frisa que ela se mostrou extremamente útil.
“Tanto quanto possível, tentei gerenciar a cidade como uma empresa, recorrendo a princípios de negócios para incutir no governo o princípio da prestação de contas. Indicadores de sucesso objetivos e mensuráveis induzem os governos a serem responsáveis e persegui esse conceito sem descanso” – avaliou ele. O horror dos ataques de 11 de Setembro ensejou inúmeras demonstrações do que Giuliani chamou de “notável espírito humanitário da América” – uma delas foi o surgimento de um respeito renovado pelos profissionais do Departamento de Polícia e do Corpo de Bombeiros que, diariamente, arriscam a vida no cumprimento do dever. Essa reação foi sobremodo motivadora para os serviços públicos de Nova York. No Brasil, a eclosão da “Covid 19” valorizou, junto à sociedade, profissionais da área médica e agentes públicos que estão atuando fora de suas casas para salvar as vidas e evitar disseminação de contágio em grandes proporções, bem como profissionais de imprensa.
Pena que o presidente da República, Jair Bolsonaro, seja um “atoleimado” e um despreparado para lidar com crises. É a grande nota destoante (e preocupante) na paisagem de calamidade com que brasileiros e brasileiras passaram a conviver nos últimos tempos. “Rudy”, lamentavelmente, não logrou avançar na corrida para ser candidato a presidente dos States em 2018. Mas não é preciso ser presidente da República para saber liderar. Que o digam as pesquisas que no Brasil de agora atribuem maiores índices de aprovação a prefeitos e governadores, na gestão da crise da pandemia do coronavírus.