Kubitschek Pinheiro
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Quando eu era pequeno (aliás, nasci por acaso, e não vou mais contar essa história aqui) eu via meu pai ajudando as pessoas. Muitas. Era incrível ele ser guarda-fios dos Correios e ter aprendido a arte de encanador, pintor de parede e eletricista. Era um gigante, Seu Vicente.
Muitas vezes ele fazia o serviço e não cobrava. Mais tarde, chegava a nossa casa uma tigela de coalhada, queijos, frutas, enviadas por aqueles que achavam estar lhe devendo um favor. Já era a mão dupla e eu não entendia.
Vi minha mãe dar comida aos pobres, digo, mais pobres que nós, que morávamos numa casa de esquina, no centro da cidade, com dois quartos, duas salas, uma cozinha, despensa, um pequeno muro cimentado e um banheiro. Das janelas, eu via as montanhas de Monte Horebe. Era linda a imagem.
Tudo fazia prever que erámos felizes e erámos. A vida no sertão é uma comemoração longeva, apesar das cidades serem longínquas do mundo. Relativamente nunca fomos espectadores de desastres alheios, como o pulsar que produz as catástrofes de hoje, com o coronarírus. Contemplativos ou espectadores?
Eis que o vírus me fez lembrar de outras pegadas, e não só, são, afinal, pegadas, mas bem atuais. A inquietante situação, me faz pensar em sair de casa e ajudar as pessoas. Olho para os profissionais de saúde e sinto a coragem, diante deles. Eu chamo de coragem, porque é o que a vida quer da gente, já disse Guimarães Rosa.
Eu não sei a quantas pessoas já ajudei na minha vida e não me cabe o título de prestativo. Nada que fiz e farei, pretende uma reflexão sobre o isolamento, sequer, a maldade dos homens.
Na vida, enquanto o navio viaja através da história e os passageiros fingem divertir-se mandando mensagens eletrônicas, muitas vezes vazias e enganosas, outros vagueiam sem rumo.
Pobre é o mundo, humilhado por um vírus.